quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A nossa roupa nova de cada dia


(Um bandido, se fazendo passar por um alfaiate de terras distantes, diz a um determinado rei que poderia fazer uma roupa muito bonita e cara, mas que apenas as pessoas mais inteligentes e astutas poderiam vê-la. O rei, muito vaidoso, gostou da proposta e pediu ao bandido que fizesse uma roupa dessas para ele.

O bandido recebeu vários baús cheios de riquezas, rolos de linha de ouro, seda e outros materiais raros e exóticos, exigidos por ele para a confecção das roupas. Ele guardou todos os tesouros e ficou em seu tear, fingindo tecer fios invisíveis, que todas as pessoas alegavam ver, para não parecerem estúpidas.

Até que um dia, o rei se cansou de esperar, e ele e seus ministros quiseram ver o progresso do suposto "alfaiate". Quando o falso tecelão mostrou a mesa de trabalho vazia, o rei exclamou: "Que lindas vestes! Você fez um trabalho magnífico!", embora não visse nada além de uma simples mesa, pois dizer que nada via seria admitir na frente de seus súditos que não tinha a capacidade necessária para ser rei. Os nobres ao redor soltaram falsos suspiros de admiração pelo trabalho do bandido, nenhum deles querendo que achassem que era incompetente ou incapaz. O bandido garantiu que as roupas logo estariam completas, e o rei resolveu marcar uma grande parada na cidade para que ele exibisse as vestes especiais. A única pessoa a desmascarar a farsa foi uma criança, que gritou em público; "O rei está nu!" E aí fez-se um espanto geral, e o rei cobriu-se de vergonha...")



Todo vez que eu leio esse conto descubro algo diferente. À primeira leitura já encontraremos o que ele tem de mais importante, que é a sátira e ao mesmo tempo crítica ao modo das pessoas se esconderem atrás de suas ignorâncias (desconhecimento). E com o decorrer do conto, ou em uma segunda leitura, já vamos perceber que além de não saberem lidar com suas ignorâncias, não sabem levantar a voz para os que fingem não perceber que algo está errado, aos que vivem numa “cegueira coletiva”. Ficam todos ali, felizes e sorridentes, sem perceberem que estão todos equivocados. E apartir de outras análises vamos percebendo como é frequente nos depararmos com situações como essa em nosso cotidiano. Pesssoas que não observam o que fazem, ou se observam, enganam a sí mesmas numa espécie de autosabotágem, somente para não destoar do grupo/coletivo.
E por falar em grupo... Confesso que sempre tive dificuldades para conviver em grupo. Sempre achei que conviver em turma era limitador demais para mim, era castrador, pois como podem cinco, seis pessoas totalmente diferentes (em personalidade) seguirem um caminho único, um só pensamento, uma só decisão, sem ferirem as caracteristicas individuais daqueles que pensam diferente?
Mas aí vão me dizer que é justamente isso o enriquecedor da vida em turma; ouvir varias vozes é algo que nos faz crescer, que viver em grupo nos ensina a prática de algo tão em falta nos dias de hoje, que é a tolerância e a cordialidade. Sim, concordo e acredito nesses ideais, gosto desse caminho, mas também num grupo podemos observar sempre prevalecer a “lei do mais forte”, do mais influente, daquele que determina caminhos. E quando só um ou dois determinam, perde-se no coletivo. E é justo aí que não me enquadro, pois vou ser aquele que vai chegar ao grupo e dizer: “O rei está nú!”
Por pensar dessa maneira, sugiro aos meus amigos e colegas que frequentam esse blog; tenham sempre amizades com pessoas diferentes entre sí, que conheçam e se relacionem com vários grupos, ou melhor, que permaneçam transitando entre grupos diferentes. Posso lhes garantir que isso é ainda mais enriquecedor.


Nenhum comentário: