quarta-feira, 29 de julho de 2009

Quanto vale o som?


Eu quero entender como anda atualmente o mercado fonográfico. Antigamente eu conhecia bem, pois eu trabalhava nesse ramo, mas hoje não entendo como funcionam os mecânismos de divulgação, vendas e a lucratividade. Pois como se sabe a um bom tempo, Cd não vende mais, e quando vende é muito pouco. O que me leva a acreditar que não é mais interessante investir em artistas muito populares, naquele monte de cantores sertanejos, grupos de pagode, forró e afins, pois não é novidade também que o público que consome esse tipo de música compra o Cd pirata. Por outro lado, quem consome a música 'refinada' na maioria dos casos também não compra Cd, baixa na web. Será que ainda vale a pena investir em artistas de um hit só? Aqueles artistas que colocam uma ou duas músicas na rádio e depois nunca mais? Ou no caso; será que vale a pena investir em artistas da moda? Que hoje é bacana gostar do cara, é moderninho, mas no próximo verão a garotada não vai mais nem querer ouvir falar do nome.
Acho que seria mais interessante investir em nomes com potêncial artistico real, e de preferência talentosos. Dar espaço para quem pode fazer carreira, para quem pode daqui a 10, 15 anos ainda estar no mercado, criando fãs fiéis que vão acompanhar a carreira e que, em uma hora ou outra, vão se ver 'obrigados' a comprar algum produto oficial do artista. É o que acho.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Na velocidade do som


Em épocas de desenfreados downloads, não tenho dado conta de ouvir tudo que baixo. Seria engraçado se não fosse trágico pra mim. Nesse mês que já se finda, contabilizei 8 álbuns inteiros baixados! É impossível ouvir tudo com a atenção necessária e fazer algum tipo de juízo sobre, fazer uma análise profunda, acaba ficando tudo muito superficial.
Será que eu vou sentir saudades de tempos em que eu tinha 2, 3 meses para ouvir um disco? E olha que eu comprava bastante Cds e Lps! Mas nada se compara aos tempos vividos atualmente. Na verdade o hábito de ouvir um disco inteiro já não se faz nos dias de hoje. Tá meio fora de moda ouvir um cd todo de um só artista. As pessoas baixam somente aquelas músicas que lhe agradam. Aí a molecada da nova geração joga tudo no Mp3 Player e aquilo fica alguns dias e depois já são trocadas por outras músicas mais novas.
Bom, quem disse que estamos vivendo em tempos 'liquidos'?
Estamos na época da velocidade da informação, na velocidade do consumo (das relações humanas também, mas isso é uma outra história). Entre o que é novidade e vêm a se tornar antigo, o tempo é cada vez mais curto.

Minha Compositora



Eu descobri Alicia Keys já faz bastante tempo. (Mas nunca é tarde para redescobrir.) Quando saiu o álbum 'Songs in A Minor' em 2001 eu fiquei impressionadíssimo com as suas composições, pois já tinham bastante profundidade para uma cantora e pianista de apenas 19 anos, em seu disco de estréia. Acho incrível artistas que são tão novos e com enorme densidade em suas composições. Depois vieram os outros 3 álbuns seguintes; “The Diary...”, “MTV Acústico” e “As I Am”, que só fizeram aumentar seu prestígio e reconhecimento como uma das artistas feminínas mais importantes e influêntes dessa época. Preciso dizer que ela já ganhou vários prêmios Grammy em diversas categorias, e que por isso e muito mais ela é uma das artistas que mais me impressionam.

sábado, 25 de julho de 2009

A revolução dos humildes


Em minha opinião, o Youtube foi a coisa mais bacana que inventaram na internet depois do e-mail. A quantidade de informação é assustadora. Muita coisa boa. Principalmente pra quem gosta de música. Um campo vasto pra pesquisas musicais; raridades, coisas antigas, lançamentos e o que mais tem feito com que eu fique encantado: gente anônima talentosa. Não tem mais como ficarem elegendo O Melhor ‘tal coisa’ (cantor, guitarrista, etc.). O Youtube joga tudo por terra, pois sempre aparece alguém que vem e desmente o que você achava. Ou melhor, que me deixa maravilhado!
Look:


(Esse cantor já está pronto, é só gravar e vender cd.)


(Essa também é só gravar e fazer capa de cd com a foto dela, vai vender muito.)


(Esse é um fenômeno da voz. Bom gosto; sabe tudo.)


(Essa é a fofa.)

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Recording Studio



Estou mais interessado em música no estúdio do que em música ao vivo. Mais especificamente em gravação de músicas. Pois sempre achei que é ali que as coisas acontecem; os momentos de criação, onde o artista pode usar todas as possibilidades, todos os recursos para sua obra. É como um pintor que fica semanas com seu quadro no cavalete, pintando, retocando e modificando a sua obra final.
É no estúdio que se montam as obras músicas que se eternizam, são naqueles momentos que se escreve a história através do som. É ali que nasce a magia.



(Esse video acima mostra o que eu quero dizer. Alguém já disse sobre o perfeccionismo de MJ?)



(Justin Timberlake gravando e produzindo a cantora Ciara)

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Padrão


"Fui considerada, pela terceira vez, a jornalista mais confiável do Brasil. Estou envaidecida. Mas devo dizer também que estamos todos nós, jornalistas, terrivelmente fora de moda. Somos sérios, numa era em que se levar a sério é considerado ultrapassado. Eu, por exemplo, uso o mesmo perfume há décadas. Sou fiel aos meus amigos. Sou prudente. Minha coragem, que existe, sim, está baseada em longo processo de pesquisa prévia e análise de riscos. Me equilibro entre a liberalidade moral e o conservadorismo ético. E tenho certeza de que não sou a única. Se destaque mereço é por estar na janela de exposição que é a TV. Sou vista, sou coerente, e inspiro confiança. Mas a imensa maioria dos verdadeiros jornalistas que conheço é igualmente séria e confiável."
Por declarações como essa que eu sou grande fã. (Ela é linda também, claro.)

terça-feira, 21 de julho de 2009

Disco novo


Hoje eu ouvi o novo disco (cd também é disco oras!) do A-ha. Adorei. Adorei porque parece A-ha. Lembra os trabalhos antigos da banda, a fase dos anos 90, “East of the Sun...” e “Memorial Beach”. Atualmente eles vinham numa fase de querer fazer um som parecido com as bandas modernas de britrock, e não vinha dando certo, não parecia A-ha. Agora sim!
Mas aí vem a pergunta; é bom parecer com os trabalhos antigos?
No caso do A-ha é ótimo. É o que eles sabem fazer de melhor, pop da mais alta qualidade. Os vocais do Morten Harket continuam impecáveis e as melodias perfeitas. Existem bandas que se reinventam e dão certo, outras não. Para o A-ha vale aquele ditado antigo que “em time que está ganhando não se mexe”.
Outra curiosidade: A foto do single foi tirada em SP, onde se vê ao fundo a ponte estaiada da Av. Roberto Marinho.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

(Foto: Lya Luft)
A cada dia estou mais apaixonado por essa mulher.
Suas belas palavras e questionamentos tocam profundamente minha alma; encontram em mim moradia e igualdade de pensamentos.
Ah, se todas fossem iguais a você.

É fogo



Qualquer ato, por mais terrível a abominável que seja, nós seres humanos, teremos a nossa justificativa plausível. O que é pior, quando essa justificativa vem segundo o que a pessoa ACHA. É quando coloca o mundo e as coisas sobre o seu ponto de vista, e passa a acreditar que assim deve ser; tudo ao seu ponto de vista. O mais engraçado é que as pessoas que usam dessa “filosofia” são as que menos tem (ou buscam) algum tipo de embasamento para faze-lo. "O mundo e as coisas são o que Eu acho". Geralmente essas pessoas nunca tem dúvidas. Ninguém lhes tira a razão.
Isso acontece nos assuntos mais polêmicos; aborto, religião, pena de morte, homossexualismo, virgindade, casamento, política e por aí a fora. Tem outros que compram idéias prontas. Ouvem alguém falando sobre um determinado assunto e compram a idéia. Geralmente quem faz isso é o preguiçoso do intelecto. Mas ainda pior é aquele que nunca tem opinião. Você fala sobre um assunto deternidado e a pessoa nunca sabe de nada, não ouviu sobre, ou diz que “tá por fora.” Tem coisa mais chata e brochante do que quando você explana sobre um determinado assunto, explica com certa profundidade, expôe entusiasmado um novo ponto de vista, e aquele que lhe ouve vira pra você com aquela cara de quem não está entendendo nada (não por sua culpa) e com 'grande profundidade' responde: “É fogo né.”

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Bombando no ipod


“Love, Sex, Magic” JT & Ciara; esse single é muito bom, matador!
Aquele tipo de música que o Justin sabe fazer muito bem. Pop até a última gota; previsível e irresistível como uma Coca-Cola gelada; você já sabe o sabor que vai encontrar, mas mesmo assim é uma delícia.

P_EENCH_ND_ LA_UNAS



Preenchendo lacunas.
Será que a vida é isso, um preenchimento de lacunas?
Estamos sempre em busca de não sabemos bem o que. Em busca de fechar o próximo buraco de nossa existência/vida. Será que a vida é uma eterna espera pelo próximo fim de semana, pela próxima viagem, pela próxima balada, pela próxima coisa que vou comprar e que logo será substituida por outro desejo qualquer de consumo?
Vivemos de consumo para preencher essas lacunas? Mas e quando consumimos pessoas como se fossem "coisas"?
Passamos uma vida toda correndo para fechar todas as frestas, tapar tudo, não deixar o silêncio (a voz interior) se instalar em nossas vidas, pois o silêncio pode fazer um barulho ensurdecedor para algumas pessoas. Até chegar o dia em que o silêncio se instala, queiramos ou não. Estaremos preparados para ouvi-lo?
Nem sei.

(Respondam: Quantos pontos de interrogação há nesse texto? Sem contar esse último).

domingo, 12 de julho de 2009

Maxwell é o Cara!


Já saiu o melhor disco de 2009; chama-se 'BlackSummerNights.'
O autor responde pelo nome de Maxwell.
É assustadora a capacidade desse cara renovar e ao mesmo tempo estar bebendo nas fontes da velha e boa 'old-school' da música negra de seu país, os EUA.
Em tempos de samplers e eletrônicos ele ainda opta por fazer tudo de forma artesanal, mas sem parecer velharia, faz algo moderno de uma forma antiga, o que é mais bacana, sem parecer repetido ou soar como cópia de outros artistas.
Gênial!

Como a Música e Eu



"Nós estamos juntos há um longo tempo já,
A música, a música e eu.
Não me importo se todas as nossas canções rimam,
Agora a música, a música e eu...
Eu sei, onde quer que eu vá.
Nós somos tão íntimos quanto dois amigos podem ser.
Têm havido outros,
Mas nunca houve 2 amantes,
Como a música, a música e eu...
Pegue uma canção e venha junto,
Você pode cantar sua melodia.
Em sua mente, você descobrirá, Um mundo de doce harmonia....
Pássaros de uma mesma espécie, Voarão juntos.
Agora com a música, a música e eu...
A música e eu...
(Tradução de "Music and Me" - Michael Jackson)

quarta-feira, 8 de julho de 2009



Com a morte de Michael Jackson ressusitou uma coisa que eu acho descabível e chato demais. A comparação artística. Aquela conversa entre fãs, de quem foi mais importante, ou quem foi maior, melhor, ficar aferindo arte.
Van Gohg ou Picasso?
Mozart ou Bach?
Elvis ou Michael Jackson?
Beatles ou Rolling Stones?
Maradona ou Pelé?
Existe fita métrica para essas coisas?
Não gosto dessas comparações, além do que, no fundo ela esbarra em preconceitos. É sempre para desmerecer o outro; até porque quando um artista faz um trabalho ele não faz para ser melhor que outro artista, ele faz o seu melhor, ou o que lhe representa emocionalmente.
Tem como medir emoção?
Quem fica fazendo essas comparações não gosta de nada! Ou melhor, gosta é de ficar impondo o seu gosto para os outros!



Quando eu tinha 12 anos eu já gostava de Michael Jackson, Stevie Wonder, Madonna, E,W&F, Comodors, Djavan e tantos outros artistas que me 'acompanham' até hoje.
Quem gosta de High School Musical e Jonas Brothers vai continuar gostando daqui a uns 20 anos?
Hoje está tudo MUITO segmentado; música para adolescente, música pra criança, música pra jovem, pra jovem 'alternativo', música pra patricinha, música de mano, música pra quem tem 'bom gosto', música pra quem é 'cabeça', pra maluco, pra adulto...
Tô tão fora desse mundinho restritivo.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Filhas de Reis


Paris Jackson falando sobre o pai foi sem dúvida a parte mais emocionante do funeral de MJ. Diante de uma imagem como essa, qualquer polêmica desaparece. Com tão pouca idade e diante de uma platéia inimaginável, ela foi lá, encarou tudo com certa segurança, falou pouco e emocionou bastante o mundo todo. Quem vai ser essa garota no futuro?
Lembrei de Lisa Presley, filha de Elvis, que também perdeu o pai com mais ou menos a mesma idade e da mesma forma, e causou mesma comoção mundial.
Mulheres de Reis.

(Lisa Presley)

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Santo de casa não faz milagre



Acho que com esse blog fica clara a minha vocação para a analogia. Então vamos lá. Não vou lutar contra isso, sai com naturalidade e não é forçado, portanto, vou assumir a vocação analítica!
Claro que os visitantes desse blog que não me conhecem pessoalmente depositam em mim muito mais valor do que aqueles que me conhecem bem. É natural de nós, seres humanos, atribuímos mais valor ao que é novo e desconhecido do que ao que já conhecemos. Eu não fujo muito a essa regra. Mas estou tentando mudar, ou melhor, reconheço a questão.
Será que se conhecêssemos a fundo todos a quem admiramos (artistas, pensadores, mestres, etc.), será que continuaríamos a admira-los? Não sei ao certo. A proximidade/intimidade nos coloca em contato com o que há de melhor e de pior nas pessoas. Mas e se o 'lado-pior' é maior que o 'lado-melhor'? Se tomamos contato só com o que há de melhor fica tranquilo, é só alegria! Será que isso tem a ver com as paixões? Nos apaixonamos pelo 'lado-melhor', e vamos amar (ao não) se soubermos entender e aceitar o 'lado-pior'? São tantas perguntas.
Acho que é como naquele ditado do “Santo de Casa Não Faz Milagre”. O que nos é próximo é cheio de defeitos, não merece muita consideração, afinal eu o conheço tão bem e sei dos seus defeitos! Visto que, aqueles que não o conhecem, enxergam nele algo novo e bom, lhe dão um valor infinitamente maior e melhor.
Por isso novas amizades e novos amores são sempre muito convidativos. Alguns vingam (amor) e outros não (paixão).

A obra mais popular de Aristóteles é a Ética Nicomaqueia, assim chamada por ter sido traduzida por Nicómaco, que trata da vida feliz, e se divide em dez livros, subdivididos por capítulos onde se desenvolvem alguns temas do aspecto principal.
O livro VIII fala sobre a amizade, que Aristóteles considera indispensável à vida. Três são os tipos de amizade, segundo ele:
A baseada no interesse, de curta duração, porque só dura na medida do interesse mútuo e enquanto este existe; a baseada no prazer mútuo, frequente entre os jovens, que dura enquanto ambas as partes se julgarem mutuamente interessantes e interessadas no que o outro me proporciona. E a amizade perfeita, que existe entre as pessoas que querem o bem dos amigos sem esperar nada em troca.
Esta última, porque é baseada na virtude, é estável e duradoura, por conter em si todas as condições legítimas da amizade. Estas amizades são provavelmente raras, por haver poucas pessoas capazes de experimentá-las, porque exigem tempo e intimidade. Só quando o amor está presente na medida certa, é que os amigos são permanentes e a amizade é duradoura. Os amigos desejam fazer bem a cada um, como sinal da sua amizade e bondade, porque é mais próprio de um amigo fazer o bem que recebê-lo, já que os atos de generosidade são parte essencial do homem bom e de virtude, e que é mais nobre fazer o bem aos amigos que aos estranhos, que o homem bom necessita de alguém a quem fazer o bem. Em suma, os amigos com bom caráter e generosos tornam-nos homens melhores.
Depois, a respeito da quantidade de amigos, que se devem ter, diz Aristóteles que nos devemos sentir felizes com poucos amigos, porque a amizade exige intimidade e esforço tanto nos bons como nos maus momentos. Por conseguinte é idiota quem se gaba de ter muitos amigos; quando não tem nenhum, porque os tem em demasia!
O filósofo também descreve as circunstâncias que levam à ruptura da amizade: Quando o caráter de uma pessoa se transforma (bem ou mal), é fácil por fim a uma amizade baseada na “utilidade”, porque, diz ele, o entendimento deixa de existir e não há razão para prolongar a camaradagem.
Mas nas amizades baseadas no caráter, a decisão é mais difícil de justificar. Aristóteles aconselha em todo o caso os amigos a melhorarem-se mutuamente. Mesmo que a amizade não se mantenha, as duas partes devem-se mútuo respeito em nome da amizade que os uniu.
Assim, os meus amigos contam-se pelos dedos de uma só mão, mas são o meu bem mais precioso, porque todos eles são dotados de um excelente caráter e generosidade. Aprecio-os a todos pela altura das árvores e a transparência dos rios que habitam nas suas almas! Quero-lhes a todos pela sombra que proporcionam e pela doçura que trazem aos dias mais áridos da minha vida. (Autor desconhecido)

quarta-feira, 1 de julho de 2009


(Venho tentando dizer coisas como essas já faz um tempo, e lendo o livro "Pensar é Trangredir" da Lya Luft, encontrei esse texto incrível.)

Nesta trepidante cultura nossa, da agitação e do barulho, gostar de sossego é uma excentricidade.
Sob a pressão do ter de parecer, ter de participar, ter de adquirir, ter de qualquer coisa, assumimos uma infinidade de obrigações. Muitas desnecessárias, outras impossíveis, algumas que não combinam conosco nem nos interessam.
Não há perdão nem anistia para os que ficam de fora da ciranda: os que não se submetem mas questionam, os que pagam o preço de sua relativa autonomia, os que não se deixam escravizar, pelo menos sem alguma resistência.
O normal é ser atualizado, produtivo e bem-informado.
É indispensável circular, estar enturmado. Quem não corre com a manada praticamente nem existe, se não se cuidar botam numa jaula: um animal estranho.
Acuados pelo relógio, pelos compromissos, pela opinião alheia, disparamos sem rumo – ou em trilhas determinadas – feito hâmsteres que se alimentam de sua própria agitação.
Ficar sossegado é perigoso: pode parecer doença.
Recolher-se em casa ou dentro de si mesmo, ameaça quem leva um susto cada vez que examina sua alma.
Estar sozinho é considerado humilhante, sinal de que não se arrumou ninguém – como se amizade ou amor se “arrumasse” em loja. Com relação a homem pode até ser libertário: enfim só, ninguém pendurado nele controlando, cobrando, chateando. Enfim, livre!
Mulher, não. Se está só, em nossa mente preconceituosa é sempre porque está abandonada: ninguém a quer.
Além do desgosto pela solidão, temos horror à quietude.
Logo pensamos em depressão: quem sabe terapia e antidepressivo? Criança que não brinca ou salta nem participa de atividades frenéticas está com algum problema.
O silêncio nos assusta por retumbar no vazio dentro de nós. Quando nada se move nem faz barulho, notamos as frestas pelas quais nos espiam coisas incômodas e mal resolvidas, ou se enxerga outro ângulo de nós mesmos. Nos damos conta de que não somos apenas figurinhas atarantadas correndo entre casa, trabalho e bar, praia ou campo.

Existe em nós, geralmente nem percebido e nada valorizado, algo além desse que paga contas, transa, ganha dinheiro, e come, envelhece, e um dia (mas isso é só para os outros!) vai morrer. Quem é esse que afinal sou eu? Quais seus desejos e medos, seus projetos e sonhos?
No susto que essa idéia provoca, queremos ruído, ruídos.
Chegamos em casa e ligamos a televisão antes de largar a bolsa ou pasta. Não é para assistir a um programa: é pela distração.
Mas, se a gente aprende a gostar um pouco de sossego, descobre – em si e no outro – regiões nem imaginadas, questões fascinantes e não necessariamente ruins.
Nunca esqueci a experiência de quando alguém botou a mão no meu ombro de criança e disse:
– Fica quietinha, um momento só, escuta a chuva chegando.
E ela chegou: intensa e lenta, tornando tudo singularmente novo. A quietude pode ser como essa chuva: nela a gente se refaz para voltar mais inteiro ao convívio, às tantas frases, às tarefas, aos amores.
Então, por favor, me dêem isso: um pouco de silêncio bom para que eu escute o vento nas folhas, a chuva nas lajes, e tudo o que fala muito além das palavras de todos os textos e da música de todos os sentimentos.
Silêncio faz pensar, remexe águas paradas, trazendo à tona sabe Deus que desconserto nosso. Com medo de ver quem – ou o que – somos, adia-se o defrontamento com nossa alma sem máscaras.
(Lya Luft)