terça-feira, 30 de junho de 2009

Sempre atual



Quando alguém querido morre, instintivamente o que nos ocorre é a tristeza. Isso é inerente em nossa natureza humana, o básico. Mas de algum tempo pra cá tenho tentado lançar um olhar diferente sobre as perdas.
O que o outro deixa em mim? O que ele me “transmitiu” em sua existência? Ou melhor ainda, qual foi o seu melhor exemplo? Com a perda da minha maior referência musical, o que ele "deixou" em mim?
Posso dizer tranquilamente que vão ficar muitas coisas, mas a principal é: A busca pelo novo. Pela novidade, ou o que está por vir. Não aceitar nunca o comodismo musical/artistico. Estar sempre atualizado com o seu tempo, e não ficar com aquela conversa, “ahh, no meu tempo era tudo mais legal.” Afinal, nosso tempo é hoje. E passa tão rápido!

(E nós, o que deixamos de exemplo? O que deixamos 'vivo' no outro?)

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Apagaram as minha luzes


Que dia triste.
Recebi a notícia da morte de Michael Jackson com MUITA surpresa no final dessa quinta-feira fria e chuvosa, típica de dias tristes. Minha mãe ligou no meu celular e deu a notícia. Talvez só minha mãe e meu irmão saibam qual a importância de Michael Jackson na minha infância e adolescência. Na minha formação musical. Acho que por isso que ela me ligou. E logo em seguida ligou meu irmão. Devem ter ligado como se quisessem dizer: “E aí cara, você tá bem? Que coisa horrível!”, como querendo consolar alguém que perde alguma pessoa importante da família. Fiquei sem saber o que dizer pra eles ao telefone. Como estou sem saber o que dizer até agora. A sensação é de que a criança que ainda morava dentro de mim perdesse sua maior estrela. A estrela que se apaga.
Devo muita coisa a esse cara; por hoje é só.

Será que existem pessoas que abram mão da beleza física em prol da beleza interior? Ou melhor, pessoas que possuam uma grande beleza física, mas mesmo assim se voltam com profundidade para o lado espiritual?
Conheço pouquíssimas. A vaidade é para os budistas um grande mal a ser combatido. Por isso usam a cabeça raspada e as vestimentas uniformizadas. Em outras religiões isso é pouco debatido. Existem religiões que ao contrário, na ostentação física mostram sua fé; tem na aparência, no modo de vestir-se um significado muito grande. Nessas igrejas estão todos sempre muito bem vestidos. Todos ostentam preocupação com status muito grande.
Bom, discrepâncias tremendas...
Mas o que me atenta é a pergunta que fiz acima; Será um desafio à pessoa abrir mão de um status (no caso a beleza física, onde não há mérito nenhum por ser belo(a), se nasce), e voltar-se para o lado humano/espiritual?
Quem faz uso dessa prática, acredito eu, está alguns passos à frente na busca pela felicidade, isso é, se a partir de certo ponto não se torna um fardo muito pesado.
Como diria um escritor brasileiro que eu gosto muito, Xico Sá, “A beleza física é passageira, a feiúra é pra sempre.”
No final, o que nos sobra?

quarta-feira, 24 de junho de 2009




O Livre Arbítrio é um convite ao conhecimento. Ao conhecimento interior, é filosofia na sua essência. Deus é mal? Deus é o autor do mal? Porque existe sofrimento se Deus é bom? Esses e outros questionamentos são analisados á exaustão. Mas o leitor menos preparado não deve temer, pois vai bem acompanhado. Santo Agostinho não nos deixa sozinhos e como que abandonados a nossa própria sorte, perdidos numa floresta de pensamentos. Mas como astuto instrutor, vai nos respondendo na mesma medida em que nos questiona novamente , tudo isso num ciclo genial até o momento em que nós encontramos no centro de nós mesmos. E dai fica fácil descobrir porque toda vida é especial, e todo homem é único.Santo Agostinho é um daqueles gênios com que a vida presenteia a humanidade de século em século. É um daqueles homens raros, por muitos incompreendido, por alguns subestimado, mas sempre respeitado.



terça-feira, 23 de junho de 2009

Santo Agostinho - Filosofia do Crescimento Espiritual



Tenho me interessado cada vez mais pela vida e obra de Santo Agostinho. Foi escritor, filósofo, padre e bispo. Conhecido como “Doutor da Igreja”, por tratar-se do maior estudioso/filósofo da igreja católica. Sua obra é utilizada constantemente pela igreja para a resposta de várias questões. Passou parte da juventude como ateu, e converteu-se ao catolicismo devido a influência de sua mãe, Santa Mônica. Figura de profundos questionamentos, escreveu várias obras que são referências tanto filosóficas como teológicas. E por coincidência é comemorado o seu dia em 15 de junho, dia do meu aniversário.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Águia e a Galinha



"Era uma vez um camponês que foi à floresta vizinha apanhar um pássaro para mantê-lo cativo em sua casa. Conseguiu pegar um filhote de águia. Colocou-o no galinheiro junto com as galinhas. Comia milho e ração própria para galinhas. Embora a águia fosse o rei/rainha de todos os pássaros.
Depois de cinco anos, este homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista. Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista:
– Esse pássaro aí não é galinha. É uma águia.
– De fato – disse o camponês. É águia. Mas eu a criei como galinha. Ela não é mais uma águia. Transformou-se em galinha como as outras, apesar das asas de quase três metros de extensão.
– Não – retrucou o naturalista. Ela é e será sempre uma águia. Pois tem um coração de águia. Este coração a fará um dia voar às alturas.
– Não, não – insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como águia.
Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a disse:
– Já que você de fato é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, então abra suas asas e voe!
A águia pousou sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos. E pulou para junto delas.
O camponês comentou:
– Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha!
– Não – tornou a insistir o naturalista. Ela é uma águia. E uma águia será sempre uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã.
No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa. Sussurrou-lhe:
-Águia, já que você é uma águia, abra suas asas e voe!
Mas quando a águia viu lá embaixo as galinhas, ciscando o chão, pulou e foi para junto delas.
O camponês sorriu e voltou à carga:
– Eu lhe havia dito, ela virou galinha!
– Não – respondeu firmemente o naturalista. Ela é águia, possuirá sempre um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma última vez. Amanhã a farei voar.
No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. Pegaram a águia, levaram-na para fora da cidade, longe das casas dos homens, no alto de uma montanha. O sol nascente dourava os picos das montanhas.
O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:
– Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, abra suas asas e voe !
A águia olhou ao redor. Tremia como se experimentasse nova vida. Mas não voou. Então o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, para que seus olhos pudessem encher-se da claridade solar e da vastidão do horizonte.
Nesse momento, ela abriu suas potentes asas, grasnou com o típico kau-kau das águias e ergueu-se, soberana, sobre si mesma. E começou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez para mais alto. Voou... voou.. até confundir-se com o azul do firmamento... "

Terminou conclamando:
– Irmãos e irmãs, meus compatriotas! Nós fomos criados à imagem e semelhança de Deus! Mas houve pessoas que nos fizeram pensar como galinhas. E muitos de nós ainda acham que somos efetivamente galinhas. Mas nós somos águias. Por isso, companheiros e companheiras, abramos as asas e voemos. Voemos como as águias. Jamais nos contentemos com os grãos que nos jogarem aos pés para ciscar.
(Trecho do livro: A Águia e a Galinha; Leonardo Boff)

"Futebol Brasileiro" é grife de qualidade

Cada país tem suas especialidades.
Os franceses tem as suas champagnes e vinhos.
Os italianos tem as suas massas e seus carros lendários.
Cuba tem seus charutos e barbudos.
E nós brasileiros temos o melhor futebol do mundo!
A nossa marca.
(...)


(Mulher também tem que ser brasileira!)

sexta-feira, 19 de junho de 2009

O Cara

Depois de protagonizar uma das maiores bilheterias do cinema nacional, MEU NOME NÃO É JONNY, entra em cartaz batendo recordes, A MULHER INVISÍVEL, estreia JEAN CHARLES, rodou o próprio longa, FELIZ NATAL, e, em 17 dias, outro longa de Mauro Lima, REIS E RATOS, com Rodrigo Santoro, filme em preto e branco, no maior clima noir, sobre as trapalhadas de agentes duplos durante o Golpe de 64, cujo tieser [trailer longo de 8 minutos] vi outro dia e, adianto, é pra lá de bom.
No entanto, declarou à ÉPOCA que está em crise de criação. 5 personagens em meses. De onde mais ele pode buscar recursos e inspiração?
Falei sobre isso com minha amiga Bel, atriz de 20 anos, que rodou 2 longas agora, o filme do Arnaldo Jabor e o sobre o Lula. "Quem me dera fazer cinco filmes, cinco personagens, em tão pouco tempo..."
Eu entendo o cara. Teve um ano que fiz 4 peças de teatro [NO RETROVISOR, O CLOSET, AS MENTIRAS QUE OS HOMENS CONTAM e MARCIANOS]. Todas num mesmo semestre. Eu não sabia mais o que dizer nos ensaios ou na divulgação. Não encontrava mais conflitos, frases ou palavras que já não foram ditas. Todos os truques cênicos foram gastos. Entrei num estresse mental.
Encontrei o Selton outro dia na Merça. Ficamos bebendo a noite toda. Falamos disso. No entanto, me veio a luz. Se fazer o que você sabe fazer, cara, já está bom demais. O repertório dele não tem fim. E o público ama.
É o maior ator em atividade. Carisma. Todos o querem. Mistura comicidade com drama como poucos. Abraça a causa do cinema apaixonadamente. Fez CHEIRO DO RALO sem ganhar um tostão; ao contrário, pagou do próprio bolso o hotel em que ficou hospedado na cidade. Usa a publicidade [é garoto propaganda do SANTANDER, você já notou] para escolher os papéis e projetos. Despreza convites para fazer novela. Pensa mais nos desafios do ator do que na conta bancária. Não é o cara?
(Marcelo Rubens Paiva)

Sobre ônibus, futebol e evolução



Hoje eu estava indo para o trabalho de ônibus, nessa linda, ensolarada e fria tarde de sexta-feira, e entre as conversas paralelas que atravessavam durante o percurso, uma me chamou atenção. Era aquele tipo de conversa pessimista a respeito do futebol atual. Aqueles que dizem que não tem mais bons jogadores, que o futebol acabou. Estranho que isso não acontece com outros esportes. Ninguém diz que não tem mais bons nadadores, ou bons jogadores de vôlei. Isso é exclusivo do mundo do futebol. Acredito que isso é devido ao saudosismo, por falta de acompanhar a evolução do esporte. A pessoa não acompanha mais o esporte e não descobre as novidades, o novo formato do jogo, a evolução que pode parecer para alguns como involução.
Estatística recente diz que jogadores da Copa de 70 corriam em média seis quilômetros por partida. Hoje correm dez quilômetros por partida. E por aí vão números e estatísticas mostrando que o esporte mudou.
Acho que cada época desenvolve uma estética de jogo, gosta-se ou não. O vôlei que se joga hoje é muito diferente do que se jogava antigamente, assim como a forma de nadar também é diferente de como se nadava em outras épocas, e nem por isso perde-se a beleza do esporte.
Durante aquela conversa que “vazava” aos meus ouvidos, fui percebendo que o ser humano não evoluiu em todas as áreas.

quarta-feira, 17 de junho de 2009


Depois do Brasil minha seleção é a Espanha!
(Enquanto isso, minha querida Itália joga um futebol sofrível.)
De qualquer forma estou bem na fita!
Previsão da final: Brasil X Espanha
E aí seu André?

Culto ao anônimato



Para mim as mulheres mais lindas não são atrizes, modelos ou celebridades de um modo geral. Não sei se isso acontece só comigo, mas tenho uma fortíssima “queda” pelas anônimas. Sim, são elas as que mais me despertam atenção/paixões. Aquelas que caminham por aí, nas ruas, nos shoppings, nos onibus, nos parques, aquelas que não aparecem em capas de revistas, não são estrelas de TV e não passam o dia todo em acadêmia de ginastica. Elas estão por aí, sem saber da paixão que despertam, sem saber que estão sendo eleitas dentre a multidão.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Virtual X Real


Pergunta de hoje:

O que vale mais, os encontros virtuais constantes, com as suas friezas, efemeridades e superficialidades, ou a saudade pelo distânciamento real com as pessoas queridas?

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Adaptação de valores


Ultimamente o que tem me causado certo desconforto é ver pessoas que tentam transformar seus erros, seus defeitos em coisas positivas. Não quero aqui fazer julgamentos, não estou em posição para tal. Só faço uma constatação.
Cada pessoa cria dentro de si, ou apóia-se em semelhantes (iguais), para formular e encontrar as suas próprias verdades, cria seus próprios conceitos para poder ter onde apoiar atitudes que mereceriam no mínimo uma revisão de valores.
Seria mais ou menos assim:
A pessoa cria o seu próprio deus (sua própria religião) da forma a melhor se adaptar a sua vida. A pessoa cria um Deus com a sua imagem e semelhança, e não o contrário.
Seria isso a volta do “Eucentrismo”?
(André P.)

“É melhor arriscar-se a provocar um escândalo do que calar a verdade”. (São Gregório, o Grande).

Um Futuro de Lembranças

(...)

O seu nome é Carmem Velásquez. E não há paz nesses excessos. É tudo muito. Em instante algum fizemos esse pacto, mas assim mesmo se fez. Ela entra pela porta que lhe dei a chave. Chegou apressada, toda cheia da energia quando vem da academia. Tem sempre a mesma desculpa, “sinto falta de você pela manhã”. Nem ligo mais para esses comentários. Chega sempre quando não espero. Não que eu não a espere, mas não sei qual hora. Hoje foi logo cedo, nessa fria manhã de junho. Disse que veio me dar parabéns. Nem lembrei a data. Ganhei cuecas e tive que provar ali mesmo na cama. Disse mais, que eu preciso de uma mulher neste apartamento. Disse que para eu viver assim sozinho não dá. Preciso de mulher em casa, se não as vizinhas vão pensar que sou veado. Que eu deveria convidá-la para morar aqui em definitivo, disse num tom carinhoso, mas falou; não parou por aí, disse ainda que sente falta do meu sexo antes de dormir. Na verdade é ela quem cuida de mim. Carmem é assim, bagunça minha vida, mas está sempre aqui neste apartamento. Vem tomar de mim o que me sobra, meu sexo e minha paz. (André P.)


(Escrevi esse 'micro-conto' a exatamente 3 anos atrás, quando eu completava meus 33. Naquela época era tudo verdade, e hoje virou ficção.)

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Enroladores

Certos tipos de literatura já não fazem sentido nenhum pra mim. Descobri isso agora a pouco. Cansei de gente que escreve “pra encher linguiça”. Aquele tipo de lilteratura que não tem nada a dizer, só fica alí te enrolando até chegar ao final do livro e te dar uma reviravolta meia boca. A partir de agora só vou lêr quem tem algo a dizer de verdade. Quem tenha uma idéia bem sacada, ou que tenha teorias novas para respostas antigas. Agora é isso que me interessa.
Tem autor que escreve sempre a mesma coisa. Mudam-se os cenários, os personagens, mas tudo gira em torno de temas repetitívos, sempre a mesma premissa.
Acho que isso tem mais a ver com a fase pela qual atravessamos. Agora eu quero lêr outras coisas, seja; história, biografias, filosofia, teologia ou românces que tragam novidades. Nada mais repetitívo. E isso também vale para o cinema. E tenho dito!

quinta-feira, 11 de junho de 2009

A graça de ser só


(Encontrei nesse texto abaixo uma conexão com o anterior.)
"Ando pensando no valor de ser só. Talvez seja por causa da grande polêmica que envolveu a vida celibatária nos últimos dias. Interessante como as pessoas ficam querendo arrumar esposas para os padres. Lutam, mesmo que não as tenhamos convocado para tal, para que recebamos o direito de nos casar e constituir família.
Já presenciei discursos inflamados de pessoas que acham um absurdo o fato de padre não poder casar.Eu também fico indignado, mas de outro modo. Fico indignado quando a sociedade interpreta a vida celibatária como mera restrição da vida sexual. Fico indignado quando vejo as pessoas se perderem em argumentos rasos, limitando uma questão tão complexa ao contexto do “pode ou não pode”.A sexualidade é apenas um detalhe da questão. Castidade é muito mais. Castidade é um elemento que favorece a solidão frutuosa, pois nos coloca diante da possibilidade de fazer da vida uma experiência de doação plena. Digo por mim. Eu não poderia ser um homem casado e levar a vida que levo. Não poderia privar os meus filhos de minha presença para fazer as escolhas que faço. O fato de não me casar não me priva do amor. Eu o descubro de outros modos. Tenho diante de mim a possibilidade de ser dos que precisam de minha presença. Na palavra que digo, na música que canto e no gesto que realizo, o todo de minha condição humana está colocado. É o que tento viver. É o que acredito ser o certo.
Nunca encarei o celibato como restrição. Esta opção de vida não me foi imposta. Ninguém me obrigou ser padre, e quando escolhi o ser, ninguém me enganou. Eu assumi livremente todas as possibilidades do meu ministério, mas também todos os limites. Não há escolhas humanas que só nos trarão possibilidades. Tudo é tecido a partir dos avessos e dos direitos. É questão de maturidade.Eu não sou um homem solitário, apenas escolhi ser só. Não vivo lamentando o fato de não me casar. Ao contrário, sou muito feliz sendo quem eu sou e fazendo o que faço. Tenho meus limites, minhas lutas cotidianas para manter a minha fidelidade, mas não faço desta luta uma experiência de lamento. Já caí inúmeras vezes ao longo de minha vida. Não tenho medo das minhas quedas. Elas me humanizaram e me ajudaram a compreender o significado da misericórdia. Eu não sou teórico. Vivo na carne a necessidade de estar em Deus para que minhas esperanças continuem vivas. Eu não sou por acaso. Sou fruto de um processo histórico que me faz perceber as pessoas que posso trazer para dentro do meu coração. Deus me mostra. Ele me indica, por meio de minha sensibilidade, quais são as pessoas que poderão oferecer algum risco para minha castidade. Eu não me refiro somente ao perigo da sexualidade. Eu me refiro também às pessoas que querem me transformar em “propriedade privada”. Querem depositar sobre mim o seu universo de carências e necessidades, iludidas de que eu sou o redentor de suas vidas.Contra a castidade de um padre se peca de diversas formas. É preciso pensar sobre isso. Não se trata de casar ou não. Casamento não resolve os problemas do mundo.Nem sempre o casamento acaba com a solidão. Vejo casais em locais públicos em profundo estado de solidão. Não trocam palavras, nem olhares. Não descobriram a beleza dos detalhes que a castidade sugere. Fizeram sexo demais, mas amaram de menos. Faltou castidade, encontro frutuoso, amor que não carece de sexo o tempo todo, porque sobrevive de outras formas de carinho.É por isso que eu continuo aqui, lutando pelo direito de ser só, sem que isso pareça neurose ou imposição que alguém me fez. Da mesma forma que eu continuo lutando para que os casais descubram que o casamento também não é uma imposição. Só se casa aquele que quer. Por isso perguntamos sempre – É de livre e espontânea vontade que o fazeis? – É simples. Castos ou casados, ninguém está livre das obrigações do amor. A fidelidade é o rosto mais sincero de nossas predileções."
(Padre Fábio de Melo)
(Fonte: www.fabiodemelo.com.br)

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Pimenta demais e sabor de menos



O dia dos namorados está chegando. Uma data muito especial para os enamorados. Claro que esse dia tem mais a ver com comércio do que com amor, mas nem por isso é menos especial. Por todos os lugares se vêem cartazes, propagandas, enuncios na TV, em sites da internet. Não tem escapatória. E para quem está solteiro, tudo isso leva a pensar ainda mais na condição de estar sozinho. Enfim, cada um com as suas escolhas e dores. Mas o que me chamou atenção não foi esse bombardeio pseudo-romântico, mas sim algumas reportagens que pipocam nesses dias que antecedem o dia dos namorados. Uma delas dizia assim: “Como Apimentar sua Noite dos Namorados”.

As perguntas de hoje são:
Será que os casais ainda precisam dessas “dicas”?
Já não estamos vivendo em tempos bastante “apimentados”?

É, eu já percebi, ando cheio de perguntas. Não tenho respostas, ou melhor, prefiro a reflexão. Talvez por achar que responder seja mais fácil do que perguntar. Mas nesse caso gostaria de lêr reportangens com títulos mais pertinentes para os dias atuais, tipo; “Como melhorar suas relações afetivas” ou, “Como Humanizar seus Amores”. Acho que matérias assim seriam mais úteis para os nossos dias de 'amores liquidos'. Bom, quem sabe um dia escrevo livros com esses títulos... Brincadeirinha.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Quando vamos nos encontrar?

(Foto: Demi, 47 anos e Ashton, 31 anos. Juntos a 7 anos.)

Que hoje estamos vivendo num mundo onde buscamos a eterna juventude, isso é inegável. E não acho isso de todo mal. O problema é a intencidade e a constância dessa busca. (Até quando?) Mas também notei algo que se não for engraçado, já é um sinal dos problemas que estamos tendo com esse comportamento de adolescência permanente.
Algum tempo atrás tive a experiência de sair com uma mulher dez anos mais velha do que eu. Ok, nada de mais até aí. Acho bacana. Era um encontro normal, entre adultos, onde havia expectativas afetivas, românticas e sexuais, claro, sem hipocresia. O problema era que, durante aquela noite (jantar, balada, etc.) ela se comportava como tendo dez anos a menos do que eu. Queria me mostrar o quanto ela era descolada e moderninha, cheia de juventude. Fiquei perdido, sem saber como agir. Ora, se um rapaz escolhe sair (ou relacionar-se) com uma mulher mais velha, o que ele busca? E o contrário, mulher mais velha que quer sair com rapaz mais novo?
Parece-me bastante antagônica essa questão. E atualmente mais comum do que se imagina.
(André P.)

domingo, 7 de junho de 2009

A Mecânica do Pouco Querer



“Meu nome é Joaquim, e meu ofício é a mecânica. Eu monto e desmonto carros. Faço motores funcionarem, carros voltarem a andar, sendo assim, o que mais posso querer da vida? Não sou desses que questionam sobre a existência, qual minha missão, de onde venho, para onde vou. Acho que a mim já foi dado muito trabalho, e nas horas vagas tento ser feliz da melhor maneira possível. Quer dizer, da minha melhor maneira possível. Sim, pois hoje em dia o que mais aparece é gente dando palpite na minha vida, que para eu ser feliz tenho que fazer isso, fazer aquilo, ir a tal lugar, comprar certas coisas. Para mim não, sou feliz do meu jeito. Eu faço coisas funcionarem, e sempre achei que isso fosse um dom, algo grandioso. Nada disso, outros fazem o mesmo melhor que eu, outros piores. Para mim, já me basta ser feliz a meu modo.” (André P.)
(Esses eram dedos de prosa que eu escrevia algum tempo atrás. Idéias que se manifestavam na observação do comportamento de meus semelhantes.)

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Dê olho no futuro



Quando eu era criança, morava num bairro novo em minha cidade. Um bairro repleto de recem casados e casais com filhos pequenos, da minha idade. Mas foi justamente com os adultos desse lugar onde tive as minha maiores afinidades. Olhando para trás, faço uma reflexão: sempre tendi a relacionar-me melhor com pessoas mais velhas do que eu, mais maduras. O porque, não sei, procuro não fazer associações e “achismos”, por mais tentador de seja faze-los. Essas escolhas, sejam elas voluntários ou involuntárias, continuam a cruzar meu caminho constantemente. Não me lembrava mais dessas particularidades do meu passado, mas hoje lendo um texto do Leonardo Boff senti novamente essa sensação. E principalmente sobre o que diz o texto. São reflexões que por mais distântes que ainda estejam, me sensibilizam bastante e fazem sentido profundo para mim.
Abaixo a reprodução do texto:


"OFICIALMENTE VELHO"


"Neste mês de dezembro completo 70 anos. Pelas condições brasileiras, me torno oficialmente velho. Isso não significa que estou próximo da morte, porque esta pode ocorrer já no primeiro momento da vida. Mas é uma outra etapa da vida, a derradeira. Esta possui uma dimensão biológica, pois irrefreavelmente o capital vital se esgota, nos debilitamos, perdemos o vigor dos sentidos e nos despedimos lentamente de todas as coisas. De fato, ficamos mais esquecidos, quem sabe, impacientes e sensíveis a gestos de bondade que nos levam facilmente às lágrimas, Mas há um outro lado, mais instigante. A velhice é a última etapa do crescimento humano. Nós nascemos inteiros. Mas nunca estamos prontos. Temos que completar nosso nascimento ao construir a existência, ao abrir caminhos, ao superar dificuldades e ao moldar o nosso destino. Estamos sempre em gênese. Começamos a nascer, vamos nascendo em prestações ao longo da vida até acabar de nascer. Então entramos no silêncio. E morremos. A velhice é a última chance que a vida nos oferece para acabar de crescer, madurar e finalmente terminar de nascer. Neste contexto, é iluminadora a palavra de São Paulo: ”na medida em que definha o homem exterior, nesta mesma medida rejuvenece o homem interior”(2Cor 4,16). A velhice é uma exigência do homem interior. Que é o homem interior? É o nosso eu profundo, o nosso modo singular de ser e de agir, a nossa marca registrada, a nossa identidade mais radical. Esta identidade devemos encará-la face a face. Ela é pessoalíssima e se esconde atrás de muitas máscaras que a vida nos impõe. Pois a vida é um teatro no qual desempenhamos muitos papéis. Eu, por exemplo, fui franciscano, padre, agora leigo, teólogo, filósofo, professor, conferencista, escritor, editor, redator de algumas revistas, inquirido pelas autoridades doutrinais do Vaticano, submetido ao “silêncio obsequioso” e outros papéis mais. Mas há um momento em que tudo isso é relativizado e vira pura palha. Então deixamos o palco, tiramos as máscaras e nos perguntamos: Afinal, quem sou eu? Que sonhos me movem? Que anjos que habitam? Que demônios me atormentam? Qual é o meu lugar no desígnio do Mistério? Na medida em que tentamos, com temor e tremor, responder a estas indagações vem à lume o homem interior. A resposta nunca é conclusiva; perde-se para dentro do Inefável. Este é o desafio para a etapa da velhice. Então nos damos conta de que precisaríamos muitos anos de velhice para encontrar a palavra essencial que nos defina. Surpresos, descobrimos que não vivemos porque simplesmente não morremos, mas vivemos para pensar, meditar, rasgar novos horizontes e criar sentidos de vida. Especialmente para tentar fazer uma síntese final, integrando as sombras, realimentando os sonhos que nos sustentaram por toda uma vida, reconciliando-nos com os fracassos e buscando sabedoria. É ilusão pensar que esta vem com a velhice. Ela vem do espírito com o qual vivenciamos a velhice como a etapa final do crescimento e de nosso verdadeiro Natal. Por fim, importa preparar o grande Encontro. A vida não é estruturada para terminar na morte mas para se transfigurar através da morte. Morremos para viver mais e melhor, para mergulhar na eternidade e encontrar a Última Realidade, feita de amor e de misericórdia. Ai saberemos finalmente quem somos e qual é o nosso verdadeiro nome. Nutro o mesmo sentimento que o sábio do Antigo Testamento: ”contemplo os dias passados e tenho os olhos voltados para a eternidade”. Por fim, alimento dois sonhos, sonhos de um jovem ancião: o primeiro é escrever um livro só para Deus, se possível com o próprio sangue; e o segundo, impossível, mas bem expresso por Herzer, menina de rua e poetisa:”eu só queria nascer de novo, para me ensinar a viver”. Mas como isso é irrealizável, só me resta aprender na escola de Deus." (Leonardo Boff)

segunda-feira, 1 de junho de 2009

O Valor da Reforma



"Dê todas as minhas qualidades, não tenho mérito nenhum por elas atualmente. Mas de todos os meus defeitos, em que busco corrigi-los, esses sim me fazem merecedor." (André P.)

(...)
Fiquei exatamente duas semanas e mais três dias esperando aquele telefone tocar. Enfim tocou. Quando atendi, era ele.

“Oi Carlos, porque sumiu desse jeito?”, perguntei-lhe logo de cara.
“Oi... Não temos muito sobre o que conversar, o que acha?”
“Então porque ligou?”
“Eu vi no celular várias ligações suas, achei que tivesse acontecido algo.”
“E se tivesse acontecido, o que você faria?”
“Aconteceu?”
“Não, só queria conversar...” Nessa hora pensei na péssima idéia em ter ligado diversas vezes.
“Tá tudo bem aí? Tem certeza?”, ele perguntou sem nenhuma emoção na voz.
“Tenho sim, quer dizer, sinto sua falta.”
“Hum...”
Aquele “hum” era um sinal que nada tinha mudado nesses meses que estamos separados.
“Como estão as coisas em Buenos Aires?”, perguntei-lhe.
“Estou bem, meu livro deve ser lançado no próximo fim de semana, até lá tenho que ficar por aqui.”
Maldito seja esse livro, maldita seja essa droga de literatura. Porque não me apaixonei por um mecânico, ou um pintor de paredes, enfim, qualquer tipo de homem que não pense muito, ou melhor, num homem que pense só em mim.
“O que tem feito sozinho esses dias em Buenos Aires?”
“Tem muitas coisas por aqui, eles são um povo que ama a literatura.”
“Você só pensa em literatura? Que droga! Não pensa mais em mim?!”, gritei.
“Desculpe Márcia, mas não tenho mais pensado em você, você se tornou a pior personagem que eu poderia vir a criar.”
Nessa hora eu desliguei na cara dele; um monstro ele é. Mas ele ainda vai me ouvir muito. Ele que me aguarde. Assim que botar os pés novamente em São Paulo, vamos ter uma conversa muito séria.
(...)


(Texto: André P.)