terça-feira, 18 de agosto de 2009

Mais um na multidão


Não tem saída, o ser humano está condenado a solidão. Por mais que um indivíduo se envolva com um ou milhares de outros indivíduos e consiga ser transparente com todos eles, ainda assim, isso não o impedirá de ser só. Sempre haverá coisas que ele jamais dividirá com os demais, seja um rancor, uma alegria, uma satisfação, um conhecimento, uma dor, um carinho, uma revolta, um medo, uma verdade, enfim, alguma coisa. Não que ele venha a fazer isso por mera e espontânea vontade, não. Muito pelo contrario, isso simplesmente acontecerá porque o ser humano é naturalmente desconfiado, medroso, de seus próprios semelhantes. Há sempre em sua mente o medo de não ser aceito, ser rejeitado, não ser compreendido pelos demais.

Ainda que fosse possível a dois indivíduos passar cem anos juntos numa cela de uma prisão, nada evitaria que o sentimento de solidão viesse a brotar em ambos os seres. De toda maneira, sempre haveria coisas que um jamais dividiria com o outro, como um sonho, uma carência, uma saudade, etc. Às vezes, essa falta de total desnudamento do próprio ser para com o outro ser não ocorre por mera e vã desconfiança, medo do outro. Isso pode acontecer por uma questão de puro auto-preenchimento mesmo, e que, inevitavelmente, todo indivíduo, sem exceção, carrega dois mundos dentro de si: um, que pode ser dividido com os demais, e o outro, feito somente para si.

Por outro lado, desde que o mundo é mundo a relação indivíduo-coletividade sempre foi algo conturbado, principalmente quando o indivíduo começa a tomar consciência de sua própria individualidade e sente falta de algumas alternativas que simplesmente a coletividade não oferece. E é aí que o indivíduo toma conhecimento de sua propria solidao, não sabe se aceita os ditames que o mundo lhe oferece ou se segue à risca aquilo que acredita. É o "ser ou não ser, eis a questão?" como diria Shakespare. Por um lado tem-se o meio querendo modelar o indivíduo e, por outro, o indivíduo querendo trilhar seu próprio caminho. E aí, qual e a saída, aceitar as conveniências ou arriscar a autenticidade? Há 2.500 anos, Platão nos oferece uma alegoria, a da caverna, que explora direitinho os riscos pelos quais passa um indivíduo que decide criar uma nova realidade e cujo desfecho se estabelece sobre duas alternativas: ou a solidão voluntária, ou a solidão pela força. E é só escolher.

Por fim, como a solidão é o destino comum de todo ser humano, varias são as formulas a que a humanidade recorre para se sentir menos só. Uns recorrem à religião, outros ao amor, outros a porralouquice, outros ao esbanjamento, enfim, o que não falta é alternativa. Cada um tem seus meios para tentar superar a própria solidão. Qual delas é a ideal, isso jamais ninguém saberá, ate porque esse é um assunto que ainda é um tabú dentro da consciência coletiva e quase ninguém quer falar sobre isso. (Luana Camará)

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