segunda-feira, 9 de agosto de 2010

A capacidade de ser anticonvencional

Por Flávio Gikovate

Entendida a liberdade como agradável estado de espírito derivado de uma coerência a maior possível entre idéias e atitudes, deveríamos tentar entender agora por que tal postura diante da vida é tão rara. E a primeira coisa que gostaria de assinalar é a seguinte: num período como o que estamos vivendo, o primeiro obstáculo à liberdade é a existência de uma enorme confusão no mundo das idéias; parece ser muito incomum que alguém tenha idéias definidas e claras, de modo que nessas condições sua conduta deveria refletir suas contradições internas; ou então o indivíduo se mantém em uma dada direção – apesar da contradição interna – até que clareiem melhor suas idéias.

Este aspecto é, a meu ver, secundário para a questão da liberdade; o básico é o temor do desafeto e das represálias em geral, ao qual está sujeito o indivíduo que não se comporta conforme os padrões usuais e tidos como aceitáveis. Estruturas sociais repressivas – e creio que são tanto mais repressivas quanto mais sofisticados os agrupamentos sociais – agem sobre cada indivíduo tal que o não comportar-se conforme as expectativas aparece sob a forma de não dispor dos meios materiais de sobrevivência em virtude de não encontrar trabalho. Comportamentos não convencionais determinam também a possibilidade de o indivíduo não ser amado, sendo esta uma das sanções quase que insuportáveis para os homens.

Assim, para sermos amados por nossos pais, colegas e parentes, teremos de agir de modo que não ofenda suas maneiras de ser e de pensar – sim, porque cada um toma a si como um modelo de perfeição a ser proposto especialmente para os filhos, apesar de que a própria pessoa pode se sentir brutalmente infeliz e insatisfeita. As represálias sociais são de tipo análogo: o indivíduo que não se comporta conforme o usual é rejeitado e desprezado; não poderá continuar a se sentir parte integrante daquela coletividade, além de ser punido em suas pretensões de ordem material.

De outra forma, pode se dizer que a liberdade se confunde com a capacidade de uma pessoa de prescindir do amor das outras. O medo da liberdade, presente em todos nós, não é infundado, pois em sociedades como a nossa cada um funciona como repressor dos outros, de tal forma que a liberdade confunde-se com desafetos e solidão.

Uma pessoa será, portanto, tanto mais livre quanto menos interessada e preocupada estiver com a opinião e, portanto, o afeto – das outras. Terá que estar suficientemente forte para suportar as represálias de todo tipo, mas principalmente a sensação de desamparo na medida que uma pessoa se perde de suas convicções – o que significa afastar-se da agradável sensação de liberdade – por temor das represálias, tenta recuperar algum tipo de prazer exibicionista através da busca de destaque social dentro das regras do jogo existente. E, ao perseguir tal objetivo – do qual já não está plenamente convencida –, tenderá a se afastar cada vez mais de suas idéias e pensamentos iniciais, de tal maneira que a sensação íntima é cada vez mais desagradável e insatisfatória; e isto será verdadeiro mesmo para aquelas criaturas que sucederem plenamente nesta busca de destaque social. Serão admiradas e invejadas pela grande maioria dos seus contemporâneos, porém se sentirão profundamente infelizes e frustradas; e mais profundamente solitárias, apesar de terem feito tais concessões para evitar essa dolorosa sensação.

A Origem


Que tal dividir um filme em quatro camadas;

a primeira: Realidade (O que é real?)
a segunda: Sonho-1
a terceira: Sonho dentro do sonho-1
a quarta: Sonho dentro da segunda e terceira.

Isso tudo é dividido dentro da sua própria cabeça.
Foi isso que fez Chris Nolan em A Origem. O que James Camarom fez em Avatar em termos visuais, Nolan fez dentro de nossas cabeças, sem usar 3D.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Síndorme de vítima


A vítima é uma pessoa orgulhosa que veste a capa da humildade. O orgulho dela vem de acreditar que ela é perfeita e que os outros é que não prestam. Crê que se o mundo não fosse do jeito que é‚ se sua esposa não fosse do jeito que é‚ se seus filhos não fossem do jeito que são, se o seu marido fosse diferente, ela estaria bem, porque ela, a vítima, é boa, os outros é que têm deficiências, apenas os outros têm que mudar.

A esse jogo chama-se o "Jogo da Infelicidade". A vítima é uma pessoa que sofre e gosta de fazer os outros sofrerem com o sofrimento dela, é a pessoa que usa suas dificuldades físicas, afetivas, financeiras, conjugais, profissionais, não para crescer, mas para permanecer nelas e, a partir disso, fazer chantagem emocional com as outras pessoas.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Felicidade 2010


"Antigamente, a felicidade era uma missão a ser cumprida, a conquista de algo maior que nos coroasse de louros; a felicidade demandava “sacrifício”. Olhando os retratos antigos,vemos que a felicidade masculina estava ligada à ideia de “dignidade”, vitória de ump rojeto de poder. Vemos os barbudos do século 19 de nariz empinado, perfis de medalha, tirânicos sobre a mulher e os filhos, ocupados em realizar a “felicidade” da família.
Mas, quando eu era criança, via em meus parentes, em minha casa, que a tal felicidade era cortada por uma certa tristeza, quase desejada. Já tinha começado o
desgaste das famílias nucleares pelo ritmo da modernidade.
Hoje, a felicidade é uma obrigação de mercado. Ser deprimido não é mais “comercial”. A infelicidade de hoje é dissimulada pela alegria obrigatória.

É impossível ser feliz como nos anúncios de margarina, é impossível ser sexy como nos comerciais de cerveja. Esta“felicidade” infantil da mídia se dá num mundo cheio de tragédias sem solução, como uma ‘disneylândia’ cercada de homens-bomba.
A felicidade hoje é “não” ver. Felicidade é uma lista de negações. Não ter câncer, não ler jornal, não sofrer pelas desgraças, não olhar os meninos malabaristas no sinal, não ter coração. O mundo está tão sujo e terrível que a proposta que se esconde sob a ideia de felicidade é ser um clone de si mesmo, um androide sem sentimentos.

O mercado demanda uma felicidade dinâmica e incessante, cada vez mais confundida com consumo, como uma “fast-food” da alma. O mundo veloz da internet, do celular, do mercado financeiro nos obriga a uma gincana contra a morte ou velhice, melhor dizendo, contra a obsolescência do produto ou a corrosão dos materiais.

A felicidade é ter bom funcionamento. Há décadas, o precursor McLuhan falou que os meios de comunicação são extensões de nossos braços, olhos e ouvidos. Hoje, nós é que somos extensões das coisas. Fulano é a extensão de um banco, sicrano comporta-se
como um celular, beltrana rebola feito um liquidificador. Assim como a mulher deseja ser um objeto de consumo, como um“avião”,uma máquina peituda, bunduda, o homem também quer ser uma metralhadora, uma Ferrari, um torpedo inteligente, e mais que tudo, um grande pênis voador.
A ideia de felicidade é ser desejado.
Felicidade é ser consumido, é entrar num circuito comercial de sorrisos e festas e virar um objeto de consumo." - Arnaldo Jabor