terça-feira, 27 de abril de 2010

Desejo pelo desejo do meu 'modelo'


"A partir de Freud o homem nunca mais foi o mesmo; tornou-se mais desejoso. Passou a cobiçar mais, a invejar mais, a desejar mais. O licencioso transmutou-se em lícito. Talvez seja inspirado na pesquisa do Doutor de Viena e em outros que Girard tem dedicado uma relevante atenção à questão do desejo. Em seu livro 'Mensonge Romantique e VéritéRomanesque' (Paris: 1961) discorre largamente sobre a questão, aventando a hipótese do Desejo Triangular, como motor de várias expressões literárias, adejando de Dostoieviski a Stendhal. Em A 'Violência e o Sagrado' o tema retorna com colorações diferentes, do Desejo Mimético.

A mímese é de inestimável valor para toda a Literatura. No eito da Poética de Aristóteles, todos os críticos de um modo ou de outro se hão com esse aspecto do complexo teórico. Girard direciona-se à questão ínvida da mímese. Muito mais do que a imitação da ação, ela se torna especificação do desejo assumindo uma morfologia adjetival e, portanto, complementar.
Ao mostrar o homem como um ser que sabe perfeitamente o que deseja, ou, se aparentemente não o sabe, como um ser que sempre tem um "inconsciente" que sabe por ele, os teóricos modernos talvez tenham neglicenciado um domínio onde a incerteza humana é a mais flagrante. Uma vez que seus desejos primários estejam satisfeitos, e às vezes mesmo antes,o homem deseja intensamente, mas ele não sabe exatamente o quê, pois, é o ser que ele deseja, um ser do qual se sente privado e do qual algum outro parece-lhe ser dotado. O sujeito espera que este outro diga-lhe o que é necessário desejar para adquirir este ser. Se o modelo, aparentemente já dotado de um ser superior, deseja algo, só pode se tratar de um objeto capaz de conferir uma plenitude de ser ainda mais total. Não é através de palavras, mas de seu próprio desejo que o modelo designa ao sujeito o objeto sumamente desejável."
- René Girard

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