quarta-feira, 28 de abril de 2010

A compreensão frente ao Outro

(Emmanuel Lévinas)

"O problema do Outro, a nossa atitude face a ele, constitui um dos temas principais das reflexões de Emmanuel Lévinas. Decorre de um tipo de reacção que teve em relação às experiências da primeira metade do século XX, e que conduziu à crise da civilização ocidental, particularmente a degradação das relações interpessoais entre o Eu e o Outro.

Emmanuel Lévinas, de origem judaica, e tendo nascido na Lituânia, tornou-se num filósofo francês da tradição fenomenológica, vindo a falecer em Paris em 25 de Dezembro de 1995.

É no face-a-face humano que irrompe todo o sentido. É diante do rosto do Outro que o sujeito dá conta que é um ser responsável. O Outro é alteridade, que não é um simples inverso da identidade, mas a incorporação de um Outro no Si-próprio sem resistência. Neste caso o Outro não é verdadeiramente outro. A colectividade do ‘nós’ não é um plural de ‘eu’. A obra de Lévinas transmite o alerta de uma emergência ética de se repensar os caminhos da filosofia a partir de um novo prisma, de se partir do Eu em direcção ao Outro. Uma tal inspiração Lévinas foi buscá-la aos Livros Sapienciais da Bíblia.

O tempo da consciencialização de Lévinas coincide com a formação da sociedade de massas na Europa e com o surgimento de dois sistemas totalitários: o comunismo e o fascismo. O homem da ‘sociedade de massas’ ao concretizar-se em massa amorfa e anónima, vai transformar-se em barbárie, que é a ausência de qualquer relação interpessoal. É a indiferença pelo Outro, e, devido à sua desestruturação social, se vai tornar mais vulnerável, e com isso mais propenso para o mal. Daí todas as trágicas consequências que emergiram em meados do século XX, que para Lévinas tem o seu expoente máximo de desumanidade em Auschwitz e no Holocausto.

Lévinas diz não só que é preciso encontrar o Outro, como recebê-lo em franco convívio. E chama a nossa atenção para que sejamos sensíveis perante o rosto do Outro, apesar de ser diferente. O rosto é o modo como o Outro se nos apresenta. Não terá que ser exactamente uma imagem. O rosto de Outrem destrói em cada instante e ultrapassa a imagem plástica que ele nos deixa, não se manifestando por essas qualidades mas exprimindo-se.

Lévinas diz que o Outro é sempre uma pessoa singular, um indivíduo. O homem quando está sozinho é sempre melhor ser humano do que quando está no meio duma multidão, duma massa excitada. Como indivíduos costumamos ser mais sensatos e melhores pessoas. A inserção num grupo pode transformar um indivíduo tímido e amável num ser diabólico. Lévinas quis livrar-nos do egoísmo e da auto-exclusão."

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