sábado, 13 de março de 2010

O Homem que Ainda Acredita


Hoje eu passei o dia com uma sensação meia Bruce Wayne; aquela coisa de sentir um peso por carregar algumas valores pesados nas costas; aquela sensação de ser o exército de um homem só; encontrei esse texto que dá uma idéia do que quero dizer:

"Quando li o título desse artigo no livro Batman e a Filosofia, logo vi que renderia uma boa discussão. Pra começo de conversa o que faria um dos mais ricos do mundo vestir uma fantasia de morcego e sair por aí dando porrada em bandidos???

Em Batman: Ano Um, obra prima de Frank Miller, vemos o mito nascer. O menino de sete anos assiste ao assassinato dos pais durante um assalto. Com o tempo, Bruce Wayne decide usar sua inteligência e fortuna para combater o crime nas ruas de sua cidade. Para isso, utiliza a figura de um morcego, animal que foi um de seus grandes medos da infância. Mas do ponto de vista moral, essa foi a melhor escolha para Bruce Wayne?

A primeira vista, tendemos a acreditar que a escolha de acabar com a criminalidade é moralmente correto. Mas o artigo discute as outras saídas para nosso bilionário. Mais uma vez, o livro recorre ao utilitarismo, doutrina moral onde deve-se agir sempre de forma a produzir a maior quantidade de bem-estar. O filósofo Peter Singer afirma que seres humanos tem a obrigação moral de ajudar outros que estão sofrendo e morrendo por falta de necessidades básicas. É a partir de suas conclusões, que vamos analisar Bruce Wayne.

Começando o bate-boca;

Imagine que você está passeando por um parque e vê uma criança se afogando no lago. Para você é fácil entrar e salvar aquela vida, mesmo que depois suas roupas ficam enlameadas. Isso porque o dano moral causado a você é muito pequeno, insignificantes na verdade, quando comparados a salvar a vida daquela criança. Vemos assim que é possível salvar uma vida a um custo moral muito baixo. Pensando assim, cidadãos ricos podem ajudar outras pessoas a um custo muito baixo. Basta deixar de comprar um cd, DVD, roupas caras e comidas finas. Esse princípio moral nos leva a concluir que desfrutar de luxos não é mais importante que salvar vidas humanas.

Bruce Wayne vive uma vida de sacrifícios em função de sua escolha de ajudar outros. Afinal, diariamente ele arrisca a própria vida para evitar que outras pessoas sofram o que ele próprio sofreu no passado. Mas para Singer, existem dois limites para essa doação. Uma versão é a forte, onde seríamos moralmente obrigados a doar até que cheguemos ao ponto que causaríamos a nós mesmos sofrimento igual ao que estamos ajudando. A versão moderada afirma que somos obrigados, do ponto de vista moral, a doar até chegar ao ponto de sacrificar algo moralmente significativo. Vamos então analisar as atitudes de Wayne frente à teoria de Singer.

Pela versão forte, o bilionário deveria doar a maior parte de sua renda para ajudar os necessitados, a menos que possa demonstrar que o acontece depois de se tornar Batman tem valor moral comparável com essa atitude. Se Bruce for bem sucedido como Batman, irá reduzir sofrimento de muitas pessoas. Mas esse resultado torna minúsculo perto do bem que a Wayne poderia fazer ajudando a população doando parte de com sua fortuna. “Isso é oposto à probabilidade de sucesso que ele alcançará vestindo-se como um morcego, lutando contra vilões com a ajuda de armas de alta tecnologia e mantendo a aparência de um playboy”.

Nos quadrinhos do Batman, várias vezes vemos Bruce fazer doações generosas para causas humanitárias. Mas sua fala na história Morte em Família (onde morre o chatinho do Jason Tood) dá uma pista de seu envolvimento. “Quando voltar a Gotham, mandarei outro cheque para ajudar e tentar esquecer o que vi aqui. Não sou diferente dos outros. Há um limite até para o que Bruce Wayne – e Batman – podem fazer”. Nessa afirmação ele mesmo não acredita na eficácia de suas doações, mas decide doar mais dinheiro para esquecer o que viu.

Mas se não fosse Batman, Bruce poderia doar ainda mais para a caridade? Dessa forma ele não contribuiria ainda mais para manter o sonho de seu pai? Afinal, não deve ser nada barato ter toda aquela tecnologia e ainda por cima viver como o exibido Bruce Wayne. Em resposta a isso, podemos pensar que a renda das Empresas Wayne garante a Bruce o dinheiro não só para ser Batman, mas também para manter doações em todo mundo. Com isso, os gastos com a máscara de playboy seriam pequenas e necessárias para um bem maior, que é manter a identidade de Batman secreta. Seria esse o argumento para a versão moderada de Singer?

Finalmente, a conclusão (ou não?);

Mas a verdade é que Bruce Wayne PRECISA ser Batman. Digo mais, quem existe de verdade é o Batman e não Bruce Wayne. Então, abandonar a vida de vigilante seria o sacrifício máximo que o herói poderia fazer em favor de outros. Bruce está disposto a doar, mas não a abandonar o que significar ser Batman. Seria um sacrifício moral a que ele não se permite.

Por um lado, concordo com a idéia que a fortuna de Bruce poderia ser mais importante para um bem maior do que a existência de Batman. Ao mesmo tempo, o Cavaleiro das Trevas é um símbolo que inspira e protege muitos. Escolha difícil essa de Bruce. Talvez ele esteja no caminho certo, ou seja tentando fazer as duas coisas.

O autor conclui o artigo com a teoria que Bruce se tornou Batman muito por ser imaturo na época. Se hoje, ele tivesse que tomar a mesma decisão provavelmente faria diferente e pensaria de forma utilitarista. Um exemplo claro dessa escolha foi novamente em Morte em Família, quando Batman teve que escolher entre salvar milhares de refugiados etíopes de um gás mortal ou impedir que o Coringa matasse Jason Todd (que já foi tarde). Batman escolheu evitar a morte e sofrimento da quantidade maior das pessoas. “Na verdade eu não tinha outra escolha”, reflete o morcegão no final da história.

Sendo assim, vemos que o mesmo modo de pensar que o teria impedido de se tornar Batman torna-se uma constante no Bruce Wayne mais maduro. O dilema moral que fica é complicado. “Devemos imitar o jovem Bruce Wayne e privilegiar os compromissos com aqueles que somos mais próximos, enquanto buscamos nossos próprios interesses? Ou, como o Wayne mais maduro, devemos estar preparados para sacrificar o bem-estar dessas mesmas pessoas, incluindo o nosso, tentando fazer o bem maior para o maior número de indivíduos?”
(Kitty Prado)

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