segunda-feira, 1 de junho de 2009


(...)
Fiquei exatamente duas semanas e mais três dias esperando aquele telefone tocar. Enfim tocou. Quando atendi, era ele.

“Oi Carlos, porque sumiu desse jeito?”, perguntei-lhe logo de cara.
“Oi... Não temos muito sobre o que conversar, o que acha?”
“Então porque ligou?”
“Eu vi no celular várias ligações suas, achei que tivesse acontecido algo.”
“E se tivesse acontecido, o que você faria?”
“Aconteceu?”
“Não, só queria conversar...” Nessa hora pensei na péssima idéia em ter ligado diversas vezes.
“Tá tudo bem aí? Tem certeza?”, ele perguntou sem nenhuma emoção na voz.
“Tenho sim, quer dizer, sinto sua falta.”
“Hum...”
Aquele “hum” era um sinal que nada tinha mudado nesses meses que estamos separados.
“Como estão as coisas em Buenos Aires?”, perguntei-lhe.
“Estou bem, meu livro deve ser lançado no próximo fim de semana, até lá tenho que ficar por aqui.”
Maldito seja esse livro, maldita seja essa droga de literatura. Porque não me apaixonei por um mecânico, ou um pintor de paredes, enfim, qualquer tipo de homem que não pense muito, ou melhor, num homem que pense só em mim.
“O que tem feito sozinho esses dias em Buenos Aires?”
“Tem muitas coisas por aqui, eles são um povo que ama a literatura.”
“Você só pensa em literatura? Que droga! Não pensa mais em mim?!”, gritei.
“Desculpe Márcia, mas não tenho mais pensado em você, você se tornou a pior personagem que eu poderia vir a criar.”
Nessa hora eu desliguei na cara dele; um monstro ele é. Mas ele ainda vai me ouvir muito. Ele que me aguarde. Assim que botar os pés novamente em São Paulo, vamos ter uma conversa muito séria.
(...)


(Texto: André P.)

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