sábado, 30 de maio de 2009

Mais um na multidão



Ultimamente ando me sentindo pressionado a publicar alguma coisa por aqui, e não sei o porque desse motivo. Não tenho muito o que dizer, tenho passado por um periodo de mudanças bastante significativo, mas não sei sobre o que escrever, talvez seja tempo de não dizer nada. Talvez seja a hora do silêncio. Geralmente as boas mudanças são coisas muito íntimas, não dá para sair assim dividindo, dando 'pitacos' aos quatro ventos das coisas que ando descobrindo, reaprendendo é a melhor palavra. Acho que cansei de me expor, quem escreve acaba sempre se expondo muito, dá a cara a tapa, e acho que nesse momento, justo agora que fiz esse blog, quero ficar um pouco em silêncio.
Mas...
Fico triste quando alguns colegas e amigos queridos ficam queixando-se da solidão, da falta de uma companhia que os faça completos e não somente 'passa-tempos'. E quando não são eles a se queixar, sou eu. As conversar nos revelam um desejo da proximidade quando estamos ficando cada vez mais distântes. Será a idade que se aproxima? A dificuldade de deixar para trás uma eterna juventude que nos é imposta pelo modelo social em vigência? Não sei. Podem ser tantas coisas. Cada um sente de uma forma, cada um sente em certo momento de sua vida, mas a dor é sempre a mesma. O escritor Rubem Alves escreve sobre a solidão de uma forma que eu gosto bastante, de uma forma no mínimo honesta. Como já disse, não quero escrever muita coisa, vou deixar a palavra com Rubem Alves:
"Como é que a sua solidão se comporta? Ou, talvez, dando um giro na pergunta: Como você se comporta com a sua solidão? O que é que você está fazendo com a sua solidão? Quando você a lamenta, você está dizendo que gostaria de se livrar dela, que ela é um sofrimento, uma doença, uma inimiga... Aprenda isso: as coisas são os nomes que lhe damos. Se chamo minha solidão de inimiga, ela será minha inimiga. Mas será possível chamá-la de amiga?
O primeiro filósofo que li, o dinamarquês Soeren Kiekeggard, um solitário que me faz companhia até hoje, observou que o início da infelicidade humana se encontra na comparação. Experimentei isso em minha própria carne. Foi quando eu, menino caipira de uma cidadezinha do interior de Minas, me mudei para o Rio de Janeiro, que conheci a infelicidade. Comparei-me com eles: cariocas, espertos, bem falantes, ricos. Eu diferente, sotaque ridículo, gaguejando de vergonha, pobre: entre eles eu não passava de um patinho feio que os outros se compraziam em bicar. Nunca fui convidado a ir à casa de qualquer um deles. Nunca convidei nenhum deles a ir à minha casa. Eu não me atreveria. Conheci, então, a solidão. A solidão de ser diferente. E sofri muito. E nem sequer me atrevi a compartilhar com meus pais esse meu sofrimento. Seria inútil. Eles não compreenderiam. E mesmo que compreendessem, eles nada podiam fazer. Assim, tive de sofrer a minha solidão duas vezes sozinho. Mas foi nela que se formou aquele que sou hoje. As caminhadas pelo deserto me fizeram forte. Aprendi a cuidar de mim mesmo. E aprendi a buscar as coisas que, para mim, solitário, faziam sentido." (Rubem Alves)

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