segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Altruismo ou Egoismo?

Na semana passada eu estava entrando no ônibus quando apareceu uma garota linda carregando uma mala de viagem enorme. O que foi que eu fiz? Claro, ajudei a garota com a mala. Mas e se fosse uma mulher qualquer, que não fosse assim tão 'linda garota'?

Hoje eu fui correr no parque, e um homem que caminhava bem na minha frente, deixou cair do bolso uma nota de 20 reais. Ele continuou andando, sem perceber. O que eu fiz? Peguei o dinheiro do chão, chamei-o e devolvi o dinheiro.
Mas e se eu estivesse precisando muito daquele dinheiro caído?

E seu eu fizer essas 'boas ações' e ficar me sentindo uma espécie de ser superior? Como se não fosse uma obrigação minha; pensando: “veja como eu sou bom em te devolver o dinheiro”, ou “olha como sou bom rapaz por carregar a sua mala.”
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...presta atenção aos motivos pelos quais uma ação é praticada. Tome-se o caso do Bom Samaritano. Normalmente, pensamos que a ajuda prestada por ele ao viajante é uma boa ação porque imaginamos que ele a tenha praticado por “bons” motivos. Mas e se descobríssemos que ele só se dispusera a tanto porque sabia que, com isso, seu nome seria mencionado com aprovação em todos os púlpitos do globo por séculos e séculos?

Foi este o problema que Immanuel Kant (1724-1804) tentou resolver.
Para Kant, age moralmente quem suprime seus sentimentos e inclinações, para então fazer aquilo que é obrigado a fazer. Alguém que faz doações caridosas apenas por temer a fama de pão-duro não pode ser chamado de pessoa moral. Kant também oferece uma regra prática: uma ação só é moral quando puder, sem maiores problemas, tornar-se princípio universal de ação. É certo ou é errado tentar livrar-se de engarrafamentos transitando pelas calçadas?

Pode ser conveniente para mim (chegarei em casa uma hora antes), mas é imoral para Kant porque não poderia tornar-se prática universal sem produzir o caos. Kant aconselhava: “Aja tão somente de acordo com uma máxima que possa tornar-se lei universal”. O que, em bom português, quer dizer o seguinte: antes de fazer alguma coisa, pense no que aconteceria se todos agissem como você.
Agir moralmente é uma árdua tarefa no mundo kantiano. Seríamos nós capazes de agir de modo tão pouco egoísta como queria Kant? Ou seremos nós criaturas muito mais autocentradas do que imaginava o filósofo alemão? Seres humanos são capazes de agir altruisticamente? Ou o egoísmo nos é inerente?

(Alain de Botton é escritor britânico de origem suíça.)

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