segunda-feira, 19 de outubro de 2009

A beleza nos olhos de quem vê


Tem gente que pode acontecer o que for na vida dela que nada muda nela própria. Passa por situações que não a transforma. Pode acontecer de tudo em seu exterior, que dentro de si não muda nada. A pessoa pode dar a volta ao mundo, conhecer milhares de culturas, lugares, ver outros modos de viver, que nada se transforma nela.

Quem são esses?
Para mim, esses são os verdadeiros cegos.
E eu tenho descoberto tantos cegos.

E sobre isso escreveu a jornalista Eliane Brum em sua coluna na ÉPOCA dessa semana;

“Acho que há vários modos de ser cego. Aqueles com quem converso nessa coluna têm uma deficiência visual – orgânica, concreta. Mas criaram outras maneiras de se conectar ao mundo, outras formas de enxergar. O mais triste é quando nosso sistema visual funciona perfeitamente, mas só enxergamos o óbvio, o que nos foi dado para ver, o que estamos condicionados a ver. Quando acordamos, a cada manhã, e as cenas da nossa vida se repetem como se assistíssemos sempre ao mesmo filme. Às vezes, choramos diante da tela não por emoção, mas pela falta dela. O filme é chato, mas sabemos o que vai acontecer em cada cena. É chato, mas é seguro. Em nome da segurança, abrimos mão de experimentar novos enredos. Tememos nos arriscar à possibilidade do diferente. Temos tanto medo que fechamos os olhos ao espanto do mundo.

Acho que ser cego é não ver o mundo do outro. Estar fechado ao que é diferente de nós. Isso vale para qualquer outro, para qualquer mundo. Nem sei dizer o quanto meu universo se ampliou ao ser vista por Leniro. A vida é sempre surpreendente quando não temos medo dela: foi preciso que os cegos me vissem para que eu os enxergasse. E, depois deles, tornei-me menos cega
.”

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