sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Em Busca da Simplicidade


(Encontrei o texto abaixo num blog chamado 'Entre Mãe e Filha', muito bacana por sinal. Fala justamente do tipo de simplicidade que eu busco, além de ter a mesma perspectiva de bem estar que eu procuro pra mim.)

Morar na europa é reaprender a ser simples!
Pelo menos aqui na Alemanha. O que parece uma grande contradição para um brasileiro que vive no Brasil. Quando você diz que mora na Alemanha (ou na Suiça, ou em Praga, nos EUA, sei lá) as pessoas logo exclamam: „nossa, tu tá podendo hein?! que chique!“ou pode acontecer ainda como acontece comigo, muitos deixam de falar com você como falavam antes.
(...)

Eu sempre dei mais valor às coisas simples. Nunca fui ligada em jóias, coisas de marca, carros de luxo ou coisas muito caras... luxo pra mim é de fato muitas outras coisas que o óbvio.
Aliás, com o passar do tempo, o conceito de luxo mudou e muda constantemente. Para muitos, luxo é grife cara estampada na roupa, nos acessórios, nos sapatos, jóias, carros, maquiagem, para outros é algo bem diferente. E depende muito da necessidade de cada um.
Viver na europa pode ser luxo ou não, assim como viver no interior do estado do Amazonas, na beira do rio, pode ser também. Tudo depende de como você vê as coisas, de como está seu estado de espírito, de como você vê o mundo.
As pessoas aqui são extremamente simples e não entendem como as brasileiras podem dar tanto valor às coisas materiais... Explico: algumas brasileiras aqui são, digamos, deslumbradas demais, dão muito valor ao supérfluo e isso os alemães já notaram faz tempo. Certa vez fui interrogada por uma professora no curso de alemão: ela dizia que eu parecia bem diferente de outras mulheres do meu país que havia conhecido, e perguntava muito intrigada, de onde vem esse valor extremado ao material.
„Cada pessoa é um ser diferente do outro“, foi o máximo que pude responder, mesmo sabendo que ela falava um fato.

Um dia conheci uma menina mineira, de uns 20 e poucos anos, que se dizia extremamente livre aqui, livre de toda a tonelada de maquiagem que usava em Beagá, das infinitas idas e vindas ao shopping pra poder estar aos pés da amigas e primas, livre da escravidão de escovas e chapinhas semanais nos cabelos já maltratados.
Nunca fui escrava de salão, mas entendo o que ela disse.
Ela se dizia livre porque vê que aqui as pessoas não estão preocupadas com a tua roupa, com teu cabelo, com a grife da tua calça jeans, com teu relógio novo e carésimo, não estão mesmo, aqui as pessoas te medem por um outro medidor: o teu interno é o que importa, é o que você é, a tua simpatia e educação, o respeito que você mostra ao outro, etc. Aqui você não precisa se preocupar em comprar todos as roupas novas da estação, você pode usar o mesmo casaco de inverno por todos os invernos de tua vida que ninguém vai se importar, o sapato pode ser o mesmo por longos anos que não vai ter ninguém se incomodando com isso, cabelo unha e maquiagem? Você mesma faz! Afinal o custo de ir a um salão são poucos bolsos que encaram, pois há muito mais coisa especial a se fazer com aquele dinheiro: uma ida ao museu, juntar pra próxima viagem de verão, ir ao um show no Waldbühne em Berlim, comprar aquele item que faltava pra o teu hobby predileto, pintar ou trocar a velha bicicleta...
E falando em bicicleta, lembro quando estudava em Manaus e morava em Itacoatiara, fazíamos excursões à floresta em Itacoatiara, que é um pólo moveleiro no Amazonas, e os alunos da universidade riam de forma debochada ao ver os estacionamentos das escolas ou empresas cheios de bicicletas (antes de o povo de Itacoatiara entrar na febre das motinhas, todo mundo usava bicileta). Pobres manauenses! o que pra eles era luxo (ter um carro) em outros países é lixo!
Sim, é claro que aqui tem carro, e muito! Mas tem também muita consciência ecológica e respeito ao próprio bolso. O povo faz questão de usar os bondinhos, os trens, os ônibus (que têm um serviço exemplar de qualidade e pontualidade) e bicicleta, e até mesmo patins, patinetes. Manter um carro aqui é muito caro! Quando viajam pra outras cidades, fazem uso constante do serviço de caronas (na internet é anunciada a ida e volta, se for o caso, e as pessoas se comunicam por ali) pagando-se muito mais barato do que indo com seu próprio carro, por avião, ou mesmo trem, que não é tão barato quanto se pensa. Comida? Come-se tudo o que está no prato! Deselegante aqui é deixar resto. Desperdício é falta de respeito. Água, luz, aquecimento elétrico em casa é sempre economizado. Pra enconomizar água, toma-se banho todos os dias, claro, mas aproveita-se pelo menos um dia na academia e pra lá tomar banho... é um dia a menos de gasto em casa! Louça é lavada sempre na máquina de lavar, gasta-se menos água do que usando a pia normal. E se caso for usar a pia pra lavar louça, enche-se esta e lava-se a louça que já ficou de molho por uns instantes, sem enxaguar! (isso ainda dobra meu estômago!). Roupas? Compra-se muito em liquidação ou em lojas de second hand. Empregada, babá, diarista? Aqui tem nada disso não! A empregada, faxineira, cozinheira, lavadora de privada é você mesmo!

- Quer conhecer uma curiosidade do homem alemão? Ele não faz xixi em pé no vaso! E diferente do que o brasileiro afirma, isso não é sinal de ser gay! Aqui as mães criam o filho pro mundo independente, e mulher não faz tudo pra homem aqui não... nem mesmo a mãe. É ele que tem que lavar o vaso, e ele sabe que em pé o risco de fazer mais sujeira pra limpar depois é muito maior.

Livros escolares são emprestados pela secretaria da escola e o aluno se responsabilza em não estragá-lo, assim podendo repassar ao próximo aluno no próximo ano escolar.

Tudo isso aí não é sinal de pobreza ou avareza não, aqui é sinal de inteligência! O alemão descobriu direitinho e na marra, como unir o útil ao agradável: ele é forçado todos os dias a pensar no meio ambiente e no próprio bolso.

Não estou dizendo com isso que não existe gente consumista. Muito pelo contrário, existe e muito. Eles compram coisas demais, muito mais do que precisam. Mas existe também essa consciência das coisas e do seu real valor, muito mais observado por eles do que por nós, brasileiros.

E assim o povo alemão vai crescendo dentro do meu conceito de viver bem.

Aqui o luxo mesmo está nas coisas simples da vida cotidiana. Dá-se muito mais valor ao sol num dia frio do que a grife do seu sapato; aos passeios de bicicleta no verão ou primavera, levando ao lado o seu cachorro, do que um carro caríssimo; a tranquilidade e verde dos parques e o ar puro do que um celular hiper caro; a uma varandinha em casa com flores e um bom livro pra ler numa espreguiçadeira do que as mil calças jeans de marca no guarda roupa, a contemplação de uma boa caminhada na floresta ou nas montanhas do que um dia num salão de beleza ou uma cirurgia plástica nos peitos...

Eu adoro isso. E estou à procura da simplicidade que perdemos há muito no Brasil.
Quer saber? Viver aqui é mesmo um luxo! No verdadeiro sentido da palavra.

E não, meus antigos-ex-amigos, eu não „estou“ metida, são vocês que „são“. Eu estou é muito mais simples, graças a Deus!

(http://entremaeefilha.blogspot.com)

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