terça-feira, 15 de junho de 2010

O mérito ou a herança?

Por Joel Pinheiro

A composição da elite americana tem mudado. O poder não está mais nas mãos de umas poucas famílias (majoritariamente protestantes e brancas) cujos filhos podiam ter a certeza de herdar o poder dos pais – entrada garantida nas melhores universidades, altos cargos da política, direção das grandes empresas, financeiras e bancos. Ele é cada vez mais acessível a quem provar o mérito próprio; isto é, a quem tiver o melhor desempenho na escola e, em seguida, nas melhores faculdades.

Mas será que a nova elite, meritocrática, é melhor do que a antiga, hereditária?

Afinal, no que consiste esse “mérito” que tem permitido a ascenção social? No domínio de técnicas e conhecimentos específicos da área em que se quer trabalhar; o político de hoje em dia é o político profissional, que domina a técnica da política; e o mesmo vale para o jornalista (um caso curioso, aliás, pois a elite jornalística não era composta de gente rica – ainda assim, era um clube de difícil acesso a quem vinha de fora), para o dono ou administrador de empresas, etc. A velha elite ao menos provia à sua descendência uma educação abrangente, capaz de lidar com grandes idéias e conceitos. A perspectiva de deixar um legado aos filhos também produzia, segundo o articulista, um incentivo em se pensar no longo prazo, ao contrário dos tecnólogos atuais, para quem – da política ao mundo financeiro – só o presente importa.

Afinal, o que era melhor (ou pior)? O privilégio hereditário, fechado e excludente, mas promotor de uma formação mais global e humana; ou a meritocracia democrática, transparente e aberta a todos, mas produtora de fileiras de mentes formatadas às suas especializações?

Nenhum comentário: