sábado, 13 de novembro de 2010

Os livros que mudaram minha vida. - Parte Um -


Mentira romântica e verdade romanesca; Girard explicita e sistematiza uma lição que a propaganda já aprendeu: muitas vezes não desejamos um objeto por uma qualidade que lhe seja intrínseca, mas para nos tornarmos iguais a um modelo. No entanto, se esse modelo for distante, como por exemplo Cristo para um cristão (imitador de Cristo), Amadis de Gaula para D. Quixote, Sófocles para um autor de teatro contemporâneo, a relação de mímese é boa e produtiva. A imitação do modelo distante não é exclusiva; se eu imito Cristo ou Sófocles, você pode imitá-lo do mesmo jeito, sem que eu tenha prejuízo. Porém, se seu modelo for seu amigo, seu vizinho, seu colega, então a relação tem grandes chances de tornar-se uma rivalidade, uma vez que o objeto que confere prestígio ao modelo e lhe dá sua identidade não pode ser dividido. Não posso dividir com meu amigo sua namorada, sua casa ou seu emprego, etc.


A Rebelião das Massas; Gasset começa com a caracterização de um fenômeno de seu tempo, e ainda mais do atual: as aglomerações. Sua descrição é desconcertante. Apresenta um curioso paradoxo: a multidão ocupa o espaço que para ela foi destinado, por exemplo um cinema, mas esta ocupação deixa um sentimento de angústia e origina um problema dos dias atuais: encontrar um lugar. Nesta constatação a primeira característica do homem-massa: ele não atribui a si mesmo um valor, mas se sente “como todo mundo”; não se angustia com isso, sente-se bem por ser idêntico aos demais. Distingue-se da minoria; esta exige mais de si mesma, acumula dificuldades e deveres. Em toda classe social há uma massa e uma minoria. “A característica do momento é que a alma vulgar, sabendo que é vulgar, tem a coragem de afirmar o direito da vulgaridade e o impõe em toda parte.”


“A arte de conhecer a si mesmo”, contém textos de Schopenhauer, na época escritos num caderno, e que o filósofo não quis publicar, e até mesmo destruiu o caderno. Mas seu editor o reconstituiu a partir de pesquisas.
Não pense o leitor que encontrará, só por causa do título, um livro parecido com esses de auto-ajuda. Muito pelo contrário, como o filósofo já era conhecido por sua expressividade ácida, talvez o leitor que espere por isso fique meio chocado, ou totalmente, ao ler um livro de conteúdo acima de tudo pessimista, com toques de acidez e misantropia.
Para alguns, soberbo, para outros, insuportável. Cada leitor que tire sua própria conclusão, onde eu finalizo esta resenha com uma frase de Schopenhauer presente nesse livro: “Num mundo em que pelo menos cinco sextos das pessoas são canalhas, néscias ou imbecis, é preciso que o retraimento seja a base do sistema de vida de cada indivíduo do outro sexto restante”.

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