quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Felicidade 2010


"Antigamente, a felicidade era uma missão a ser cumprida, a conquista de algo maior que nos coroasse de louros; a felicidade demandava “sacrifício”. Olhando os retratos antigos,vemos que a felicidade masculina estava ligada à ideia de “dignidade”, vitória de ump rojeto de poder. Vemos os barbudos do século 19 de nariz empinado, perfis de medalha, tirânicos sobre a mulher e os filhos, ocupados em realizar a “felicidade” da família.
Mas, quando eu era criança, via em meus parentes, em minha casa, que a tal felicidade era cortada por uma certa tristeza, quase desejada. Já tinha começado o
desgaste das famílias nucleares pelo ritmo da modernidade.
Hoje, a felicidade é uma obrigação de mercado. Ser deprimido não é mais “comercial”. A infelicidade de hoje é dissimulada pela alegria obrigatória.

É impossível ser feliz como nos anúncios de margarina, é impossível ser sexy como nos comerciais de cerveja. Esta“felicidade” infantil da mídia se dá num mundo cheio de tragédias sem solução, como uma ‘disneylândia’ cercada de homens-bomba.
A felicidade hoje é “não” ver. Felicidade é uma lista de negações. Não ter câncer, não ler jornal, não sofrer pelas desgraças, não olhar os meninos malabaristas no sinal, não ter coração. O mundo está tão sujo e terrível que a proposta que se esconde sob a ideia de felicidade é ser um clone de si mesmo, um androide sem sentimentos.

O mercado demanda uma felicidade dinâmica e incessante, cada vez mais confundida com consumo, como uma “fast-food” da alma. O mundo veloz da internet, do celular, do mercado financeiro nos obriga a uma gincana contra a morte ou velhice, melhor dizendo, contra a obsolescência do produto ou a corrosão dos materiais.

A felicidade é ter bom funcionamento. Há décadas, o precursor McLuhan falou que os meios de comunicação são extensões de nossos braços, olhos e ouvidos. Hoje, nós é que somos extensões das coisas. Fulano é a extensão de um banco, sicrano comporta-se
como um celular, beltrana rebola feito um liquidificador. Assim como a mulher deseja ser um objeto de consumo, como um“avião”,uma máquina peituda, bunduda, o homem também quer ser uma metralhadora, uma Ferrari, um torpedo inteligente, e mais que tudo, um grande pênis voador.
A ideia de felicidade é ser desejado.
Felicidade é ser consumido, é entrar num circuito comercial de sorrisos e festas e virar um objeto de consumo." - Arnaldo Jabor

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