Na semana passada, fui a uma festa na casa de uma amiga. Um dos convidados era um rapaz cubano. Logo me aproximei, como alguém que se aproxima de um extraterrestre. “Como você conseguiu sair de Cuba?” Não perguntei. Fiquei com medo. Vai saber o que o cara está tramando. Mas enfim, puxei papo, e ele entendia bem o português, mas se expressava num portunhol difícil. Conversei bastante com Juan; 29 anos, músico, está no Brasil há 3 semanas, estava indo pra Salvador, vai ficar lá até o carnaval. “Fica tranquilo que o Fidel tá sabendo”, ele disse fazendo graça. Explicou que o ministério da cultura mandou alguns músicos cubanos pra conhecerem o carnaval baiano e fazerem intercâmbio cultural em algumas cidades do Brasil. Uma espécie de férias comunista.
Mas o que eu quero relatar aqui é outra coisa. Juan estava usando uma camiseta com a foto do Che Guevara. Pelo que senti, deve ter sido algum presente de brasileiro. Alguém quis ser gentil e dar-lhe um presente de boas vindas, algo como se nós brasileiros fossemos para outro país e alguém nos desse uma camiseta da seleção brasileira com a foto do Pelé.
Aí um senhor engraçadinho que estava na festa, chegou pra ele (Juan) e começou a fazer piada com a camiseta, dizendo que Che não tinha mais nada a ver, que era coisa do passado, coisa de argentino, que a história dizia que Che tinha sido um sanguinario e baderneiro comunista. Eu percebi que o clima não estava ficando bom. Tentei ajudar o cubano a se defender do papo furado do cara, que já estava meio bêbado e querendo se aparecer para as garotas. Por sorte o cubano era muito tranquilo e gente boa, pois a coisa poderia ter ficado feia.
No final da festa, quando eu estava indo embora, perguntei para o Juan se ele estava chateado com o papo do cara sobre o Che. Ele disse que não, que lá em Cuba essas discussões são bem comuns e que ele tira isso de letra. Mas o mais surpreendente foi ouvir o seguinte comentário do cubano: “Eu reparei que aquele cara estava usando uma camiseta da Nike, engraçado né, pois a Nike, como todos sabem, é uma das empresas que mais fatura no mundo explorando países pobres. A maioria do seus produtos são feitos por mão de obra barata, exploratória. Pagam pouco e cobram muito pela marca. Além de criar nos jovens e adolescentes um desejo fora do normal por seus produtos. Eu soube que em alguns países eles matam para roubar um tênis dessa marca...”
Não poderia ter me dado uma resposta melhor. Mas como eu prefiro as perguntas; o que mata mais, o capitalismo ou o comunismo?
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