terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Dezembro

No mês de dezembro, além das pessoas ficarem com o coração mais mole, mais carinhosas e sensíveis, ficam ainda mais consumistas. E pra quem trabalha na área comercial, isso fica mais evidente.



Não sei se é só pelo fato de eu trabalhar na área comercial, ou por outro motivo qualquer, mas a cada dia que passa fico menos consumista. Acho que a pessoa que compra em demasia apresenta algum tipo de problema de ordem psicológica. Não quero dizer com isso que eu esteja isento disso, mas o fato de estar atento para o consumismo que nos é imposto já é um ótimo sinal.
Você já notou que a cada dia é criado uma nova 'necessidade' para vivermos felizes?

Celulares, camêras, DVDs (agora é pra gente comprar o Blue-ray), Ipod, Iphone, tv de plasma, notebook, carros novos, bolsas de grife, Nike, Adidas e muitos outros sonhos de consumo que nos colocam pela frente. Mas um porém, não basta ter os itens 'obrigatórios' de consumo, eles devem ser renovados com bastante frequência, ou você fica mais de 2 anos com o mesmo celular sem sentir a necessidade de troca-lo por aquele novo modelo, que além de tirar fotos incríveis tem GPS e tem conecção rápida com internet?

Pois é... se depender de mim esse natal vai ser um dos piores em termos de crescimento econômico.

Achei muito bom esse texto abaixo que fala justamente sobre isso:

Por Denise Mendonça de Melo

Todas as pessoas precisam consumir a fim de satisfazer suas necessidades básicas para a sobrevivência. O consumo apresenta-se como atividade natural e saudável, quando praticada de forma consciente e dentro do necessário, sendo assim indispensável. Até então, nenhuma novidade. O fato é que esta aquisição de bens vem, de longa data, sendo feita de maneira desenfreada pelos diversos segmentos da sociedade a ponto de abalar as estruturas financeiras das pessoas.

O sujeito, tentando se estruturar como um ser completo, mesmo que momentaneamente, usa o recurso das compras para aliviar seus conflitos. Tal comportamento desvirtua o pensamento do indivíduo que se confunde com as noções de ter e ser. Desta forma, percebe-se uma banalização da experiência humana que vem se caracterizar, dentre outras formas de atuação, pelo comportamento consumista irracional. Acredita-se que quanto menos o sujeito se percebe como tal, não se estruturando na base do ser, mais ele precisa ter, comprar, sentir-se dono de algo concreto, palpável, então menos ele consegue ser, transformando essa questão em um círculo vicioso.

O ser humano, eterno insatisfeito por excelência, apresenta-se sempre com uma vontade a ser saciada, enquanto isso não acontece, o descontentamento é inevitável, então, quando o desejo é satisfeito, a vontade cessa por pouco tempo dando lugar a uma outra vontade. Dessa maneira o sujeito tende a uma satisfação superficial e imediata de seus conflitos interiores que se apresentam sintomaticamente através do consumismo. Quando o indivíduo é consciente desta dinâmica, mas não consegue viver de outra forma, acredita-se que o seu desconforto seja bem maior.

Aos olhos da Psicanálise a pessoa apresenta-se como sujeito desejante e cheio de necessidades originadas das mais diversas etapas da vida, muitas derivadas de experiências da primeira infância. O ato de comprar, para a maioria, aparece mexendo com os sentimentos de gratificação e proteção que remetem a esta etapa inicial da vida da criança.

De forma simplificada pode-se explicar da seguinte maneira: Sabe-se que o recém-nascido obtém satisfação de suas necessidades através dos cuidados de sua mãe, ou de quem desempenha esse papel. Tal atividade garante a formação das primeiras relações sociais da pessoa com o mundo. O bebê tem sensação de completude quando vivencia esse momento de forma satisfatória com sua mãe.

Nessa mesma fase do desenvolvimento da criança (0 a 02 anos de idade) ela tende a incorporar e possuir os objetos que a cercam, ou seja, tende a levar tudo o que vê à boca, na tentativa de conhecer esses objetos. As pessoas que não passaram bem por essa fase, ficando fixadas nela, possivelmente, desenvolvem comportamentos consumistas, comprando muito na tentativa inconsciente de adquirir mais e mais objetos independente de sua utilidade prática. Pode-se referir-se ainda, nesse mesmo contexto, àqueles que comem demais, bebem demais, fumam demais ou tudo isso ao mesmo tempo.

Entretanto, é perceptível a manipulação que o marketing realiza com seus apelos fascinantes em cima da fragilidade humana. Este instrumento de persuasão e sedução é utilizado em larga escala, potencializando uma necessidade que o indivíduo já possui, podendo causar interferência na capacidade de distinção entre o que se deve e o que não se deve ser comprado. Incide exatamente em cima das noções de necessidade e desejo que conjuntamente às questões psicológicas já mencionadas atinge um resultado imensurável.
Quando o comportamento consumista e a concomitante fusão do ser e do ter incomodam de forma significativa, implicando na diminuição da qualidade de vida, é recomendada uma psicoterapia.

Principalmente quando a pessoa nunca consegue se perceber satisfeita a não ser pela via da posse de algo. O consumismo realmente descontrolado, que ocorre mesmo independente das possibilidades econômicas da pessoa, pode evidenciar um comprometimento psíquico de maior relevância, ou um simples descontrole emocional momentâneo.

É importante ressaltar, contudo, que nem todo comportamento consumista é fruto de uma psicopatologia. Muitos convivem harmoniosamente com o seu desespero aquisitivo, evidenciando que essa é sua forma de estar no mundo e que isso não os incomodam em nada.

Também é interessante apontar que mesmo diante de uma sociedade basicamente consumista, muitas pessoas vivem sem se sentirem fascinadas ou mesmo hipnotizadas por vitrines extremamente bem elaboradas e promoções dos mais diversos tipos. Naturalmente, compram o que necessitam, sem depender desse procedimento para se sentirem felizes e realizadas.

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