quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
Desejo de Status
Segundo o escritor Oscar Wilde, só há duas tragédias na vida: uma é não se conseguir o que se quer, a outra é conseguir. E das duas, a pior delas – um verdadeiro drama - é exatamente a última: conseguir o que se quer.
Ironias à parte, mas no fundo no fundo, o escritor inglês tem toda razão ao dizer que, realmente, é uma verdadeira tragédia, quando o sujeito faz do seu ofício diário - do seu objetivo de vida - a procura pelo status.
Status, palavra derivada do latim “statum”, nada mais é do que o valor e a importância de uma pessoa aos olhos do mundo. Importância essa tão bem descrita por uma das entidades do escritor Fernando Pessoa, o Álvaro de Campos, quando disse: “Começo a conhecer-me. NÃO EXISTO. Sou o intervalo entre o que desejo e os outros me fizeram...”. Então, está explicado por que Sartre anunciava: “o inferno são os outros”.
E vive, sem dúvida, num inferno, quem tanto procura o status. O escritor e filósofo suíço, Alain de Botton, interessado no tema, escreveu um livro com esse título: “Desejo de status” e, logo na primeira página, brilhantemente, nos adverte: “É uma preocupação tão perniciosa que é capaz de destruir grande parte de nossa vida. Movidos por ela... podemos perder nossa dignidade e nosso respeito próprio. O desejo de status possui uma capacidade excepcional de inspirar sofrimento”.
E por que isso acontece? É simples. Ao lutar por toda uma vida, para ocupar um cargo importante, que lhe dê projeção, poder, fama, adulações, risos (mesmo nas piadas de mau gosto), deferências, etc, etc... quando consegue isso, o sujeito nem sempre está preparado para exercer o cargo. E aí, vem a tragédia. Vem a cobrança: “Você pode até ter boas intenções, mas é um incompetente. Falta-lhe pulso!”.
Aí o sujeito, se desespera, pois começa a perceber que aos olhos do mundo a sua farsa está sendo descoberta: “Eu quero o poder, o cargo, mas sei que não estou preparado para ocupá-lo. Eu lutei tanto (mas, não foi o bastante). Toda a minha vida foi para isso. Não posso perder. Não posso perder!”.
Ao viverem, portanto, esse drama de consciência – e vivem mesmo e não tenho nenhuma dúvida -, os desejosos de status sofrem. E isso está estampado na face de cada um, só não ver quem não quer. Conheço muitas e muitas pessoas que estão passando por esse problema: incompatibilidade da “competência” com o espaço que ocupa. Gostaria imensamente de ajudá-los. Mas, não sei como abordá-los. Talvez, fosse o caso de lhes mostrar que a principal causa que faz com que o indivíduo queira ser um vip, um famoso, seja a sua total falta de amor. De amor próprio.
Pois, quem se ama não se importa se está vestindo roupa de uma grife não famosa; quem se ama não se importa se o seu carro é ou não o do ano; quem se ama não se importa se vai ou não viajar; ou seja, quem se ama, não precisa dos olhos dos outros para guiar a sua vida.
(...)
(Francisco Edílson Junior, Professor do Departamento de Cirurgia da UFRN.)
Estou relendo esse livro. Um dos melhores livros sobre esse assunto. Muito bom.
*
E como um assunto puxa o outro; também estou lendo um outro livro que fala sobre o comportamento do consumidor, onde destaco esse trecho:
“Marketing social é a gestão estratégica do processo de mudança social a partir da adoção de novos comportamentos, atitudes e práticas, nos âmbitos individual e coletivo, orientadas por princípios éticos, fundamentados nos direitos humanos e na eqüidade social. O termo é empregado para descrever o uso sistemático dos princípios e métodos do marketing orientados para promover a aceitação de uma causa ou idéia, que levem um ou mais segmentos populacionais identificados como público-alvo a mudanças comportamentais quanto à forma de sentir, perceber, pensar e agir sobre uma determinada questão, adotando a respeito novos conceitos e atitudes”.
Resumindo; são os profissionais de marketing criando na sociedade um novo desejo (consumir), um novo modo de ver o mundo, de ocordo com o que eles 'precisam' para vender um novo produto ou idéia.
Percebeu como eles nos pegam?
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